SATISFAÇÃO EM ESTAR INSATISFEITO
Parece até engraçado, como há pessoas que gostam de reclamar. Uma
satisfação estar insatisfeito com tudo. Será o mal da contemporaneidade? Ter em
excesso e se sentir que nunca está bom o bastante? Pego-me observando as
pessoas no dia a dia em seus atos e comentários. E isso ocorre com tudo, desde
artigos mais fúteis aos mais necessários para a sobrevivência humana. Parece
que quanto mais se tem, pior é.
Vejo crianças, que ainda poderiam estar aproveitando o mundo de faz de
conta e brincando com o imaginário, ficar horas em frente da televisão,
computador, tablet (não que eu seja contra a evolução tecnológica, mas sim, ao
uso obsessivo) sentindo-se insatisfeitos por não terem “ainda” o brinquedo da
última geração, já que o brinquedo adquirido na semana passada está
ultrapassado. Estes por sua vez tornando-se jovens que não vestem uma roupa se
não forem da marca do momento. E adultos que gastam mais que ganham e assim em
efeito cascata, o mundo caminha para um futuro incerto e aterrorizante. Onde vamos
parar com a insatisfação?
Mas tudo isso relatado foi por causa de um fato recorrente neste verão a
muito não visto nestes últimos anos. Dias consecutivos de um verão de céu azul
belíssimo sem nuvens e de um calor praiano e convidativo para a curtição em
família, com amigos ou com a pessoa amada.
Lendo o jornal, meus olhos deslizam em palavras: massa de ar quente e
seco, que se instalou em
Santa Catarina na última semana de janeiro até meados de
fevereiro com temperaturas de 30ºC no final da manhã e 40ºC à tarde com
sensação térmica de até 50ºC com índices ultravioletas em extremos. Em outra
reportagem: Joinville foi líder do ranking mundial com a sensação térmica de 52
graus no dia 31 de janeiro de 2014 sendo a maior marca registrada nos últimos
103 anos.
Vem a constatação, mês de janeiro e fevereiro com poucas chuvas principalmente
em Joinville, conhecida como a cidade da chuva. Quantos verões anteriores que
tivemos até enchentes por causa da grande quantidade de água mandada pelas
nuvens escuras e densas, os temporais que destruíram casas e famílias inteiras.
Não que estou reclamando da abençoada chuva que vem do mansinho trazendo o
frescor em nossos dias.
O que eu quero aqui é apontar para insatisfação humana. Faça sol ou faça
chuva, nunca está bom o suficiente para agradar ao “refinado” gosto
contemporâneo.
Temos a oportunidade do uso da tecnologiapara amenizar o calor excessivo
nos confortando com o frescor do ar-condicionado, piscinas de todos os
tamanhos, a beleza da natureza com banhos em rios, cachoeiras e mares, a brisa
do final da tarde. Já houve tempos que não havia nem ventiladores e as pessoas
se refrescavam com os charmosos leques, andavam com sombrinhas e chapéus para
se protegerem do sol e assim por diante.
Sei que os pessimistas podem pensar que isto é um cúmulo. Mas pense: Se
estamos passando por este calor escaldante, não é também fruto da nossa
insatisfação gerada pelo consumismo?
Eliana Aparecida de Quadra Corrêa
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