Texto publicado na página da Confraria das Letras no jornal Notícias do dia em 16 e 17 de novembro de 2013.
No interior, namoros não esquentam
fogão. São rápidos. As pessoas geralmente se conhecem desde cedo. As famílias
já têm afinidades. E também assim evitam-se mau falatório. Então para que
esperar. Mas esse namoro estava cumprido. Era hora de casar.
Enxoval é coisa preparada desde
cedo. Entre crochês, bordados e costuras os lençóis, toalhas de banho, mesa e
decorações eram confeccionadas com destreza pela noiva e a mãe da noiva.
O noivo e seu pai preparavam o corte da madeira, o encaminhamento desta à
madeireira para transformá-las em
tábuas. Em seguida na construção da humilde casa de três
quartos, sala e cozinha, sem esquecer do fogão à lenha feito de pedra para
prover a comida do novo casal.
Entre preparativos para o casório, os encontros do casal enamorados
aconteciam na sala da casa da noiva, entre olhares desconfiados do pai e
atenciosos da mãe.
E sonhos de uma vida feliz, rodeada de filhos envolviam o casal, a espera
do tão sonhado momento de concretizá-lo perante Deus, o laço matrimonial.
Eis que chega a tão esperada festa. Todos da família estavam convidados.
Tios, primos, avós, padrinhos eufóricos com o evento. A igrejinha da localidade
pronta, decorada com flores do campo.
Na casa da noiva a correria, um boi tinha sido preparado para a ocasião e
o cheiro do assado estava no ar. Na cozinha, mulheres se revezavam no fogão
preparando pratos para recepcionar os convidados. E muita cachaça já rolava
animando os homens na empreitada de puxar mesas, bancos, improvisar tendas (no
caso de chuva repentina). E a decoração com muita folha de bananeira, rosas e
margaridas deixavam o ambiente romântico para a ocasião.
A noiva, com ajuda de suas madrinhas, arrumava-se no quarto, cuidando
para que o noivo não a veja antes do casamento (dizem que dá azar). O noivo,
todo nervoso. Entre gole de cachaça pedia para o padrinho arrumar a sua
gravata.
E assim foram. O noivo (como segue a etiqueta) chegou primeiro a
igrejinha toda enfeitada de flores do campo. A noiva logo em seguida chegou a
trote do cavalo que ganhou quando criança. Um amigo inseparável da menina
roceira, que agora era a noiva.
A cerimônia emocionou com lágrimas de felicidade. Ao sair da igreja uma
chuva de arroz para dar sorte ao casal. E rumo a festa na casa do pai da noiva.
Após o jantar, a valsa dos noivos e um arrasta pé animou a noite. Até que
resolveram leiloar a gravata do noivo. Quanto mais dinheiro os convidados
davam, maior era o pedaço da gravata. Até aí, tudo bem. Mas além da gravata, a
pessoa ganhava um número para concorrer a uma porca.
A animação era geral. Era quem podia dar mais para ganhar a porca. No
sítio, uma porca pode alimentar várias bocas para um bom tempo. Era o prêmio.
Hora do sorteio. Suspense no ar. O padrinho do noivo que tinha feito toda
arrecadação anunciou:
- Número 13.
Tio da noiva todo animado, pulando
de alegria, gritou:
- Sou eu, sou eu! Eu ganhei!
Feliz da vida foi receber o seu prêmio.
Surpresa. Entregaram a ele uma porca. Uma porca de parafusos.
Risada geral.
Peças e peripécias da família.
E o casal?
Como em muitos casamentos, saíram cedo, na surdina, para curtir a lua de mel, enquanto os
convidados aproveitavam a festa, num arrasta-pé frenético até de madrugada.