sábado, 14 de setembro de 2013

Texto Publicado no Jornal Notícias do Dia (14 de setembro de 2013) por Eliana Ap. de Quadra Corrêa





Causo curioso

Certo dia, escutei um causo curioso, desses de não acreditar em tais maluquices. Lembram do estimado fogão à lenha? Talvez as mulheres de hoje não o estimem tanto assim, mas se conversarem com algumas vovós do tempo do fogão à lenha vão ouvir muita rasgação de seda para este objeto:
 - Faz uma comida saborosa, não tem igual.
Realmente já experimentei muita comida de fogão à lenha e podem acreditar, não há sabor igual. Imaginem uma comida caseira: arroz, feijão, galinha caipira e um belo macarrão fumegando em contato com o calor da brasa por horas e horas, deixando no ar o cheiro estonteante do almoço.
O triste é como providenciar a quentura do fogão. Levantar cedo, cortar a lenha com machado (é dureza, que nossos avós faziam com destreza) e com muita fumaça na cozinha iniciava um foguinho tímido, que iam criando forma, força e esquentando toda a casa, trazendo o calor necessário para sentir o aroma do café quentinho em nossas narinas.
E além, de trazer o calor para aliviar o frio, também trazia o calor humano que geralmente formava em torno do fogão à lenha. A família, vizinhos e parentes se reuniam diante do calor e dali muitos causos eram fomentados de boca em boca perpetuando a memória, o saber fazer, um elo entre o passado, o presente e o futuro.
O chá é outro artigo de consumo visto em cima do fogão à lenha. Mas não são chás comprados nos mercados, todo cheio de pompas em caixinhas e embalagens práticas e estilosas próprias para consumos diários, de uma vida corriqueira e sem tempo de esperar o chá feito de ervas retiradas diretamente da natureza. Além de serem preparados de forma artesanal, com a tranquilidade dos tempos do sítio, têm a riqueza de nutrientes próprios para curas dos males físicos. 
Pois é, toda essa discussão (que aconteceu durante um rápido café para uns e chá para outros, antes do trabalho) originou por causa do tal causo curioso (lembram-se do início do texto? o tal causo?). Foi sobre um homem que resolveu ter em casa (na cidade) um fogão à lenha. E todo pomposo tratou de construir a chaminé bem alta para que a fumaça não atrapalhasse a boa convivência com os vizinhos. Até aí, tudo tranquilo, normal para nossos ouvidos.
A questão é com que material esta chaminé foi preparada. Pensando também no charme e na beleza, o tal homem foi até uma loja de artigos de construção e com todo cuidado na escolha, observando a largura, a altura que lhe convinha para uma boa passagem de fumaça, comprou um cano de PVC.
Chegou a casa, reuniu os instrumentos que usaria para colocar seu plano em prática. Preferiu ele mesmo construir a engenhoca. E com cuidado e afinco instalou a mais nova aquisição da família.
 Feliz com sua obra pôs o fogão à lenha a funcionar colocando pedaços de madeira e fogo para preparar um bom jantar. - O primeiro de muitos. Pensou o homem. Logo, a vizinhança veio admirar o tal invento. E comentários apreensivos, muitos murmúrios e suspense se sucederam diante da obra. Será seguro o conjunto gastronômico?
 Enquanto uma leve fumaça saia da chaminé estava tudo certo. Até que o fogo pegou força e um calor subiu pelo cano fazendo-o imediatamente derreter. E diante dos olhares curiosos, a chaminé de PVC foi caindo e definhando ao toque do fogo.

Coisas do mundo moderno, procurando facilidades e praticidades nas coisas, nas situações e na vida.