TEXTO PUBLICADO NO JORNAL NOTICIAS DO DIA EM 26 E 27 DE JULHO DE 2014 POR ELIANA APARECIDA DE QUADRA CORRÊA
Causos de caminhoneiro
Como de costume (e isso acontece desde que eu sou pequena), meu pai chega
de suas viagens e logo em seguida nos reunimos para ouvir seus causos da
estrada.
Conta-nos o percurso geográfico
pelo qual trafegou com os mínimos detalhes como um perito em sua investigação.
Relata sobre placas, curvas, vilarejos e suas culturas locais, sotaques bem
marcados, influenciados pela imigração.
Curiosidades, como o uso de palavras com significados diferentes de cada
lugar. Como por exemplo a palavra rapariga que no
Sul do Brasil significa
simplesmente o feminino de rapaz sendo sinônimos de moça, mulher nova,
adolescente do sexo feminino, menina, guria. Nas regiões Norte e Nordeste,
estados de Minas Gerais e Goiás pode informalmente significar meretriz, amante,
mulher da vida.
Ou
o uso de várias denominações para um mesmo objeto, bola de gude é uma destas
palavras, uma pequena bola de vidro maciço, pedra, ou metal, normalmente escura,
manchada ou colorida, de tamanho variável, usada em jogos infantis. Também é conhecido pelos
nomes: quilica, bulica, peca, Berlinde, burquinha,
burca, baleba, bila, biloca, bilosca, birosca, bolita, boleba, bolega, bugalho,
búraca, búlica, búrica, bute, cabiçulinha, carolo, clica, firo, fubeca, guelas,
nica, peca, peteca, pinica, pirosca ou (Mangalho), bolinha, piripiri, xingaua,
kamikaze, ximbra e bolíndri.
. Curiosidades gastronômicas como
o cacetinho, espécie de pão de sal também conhecido como pão francês, termo
usado pelos gaúchos e baianos. O bauru, um sanduíche inventado por Casimiro
Pinto Neto, apelidado de Bauru em referência a sua cidade natal que contém
ingredientes: pão com queijo quente, presunto, rosbife, tomate, picles, orégano
e sal e é claro com variações conforme estado. O pingado, café com pouco leite
ou vice-versa. O virado feito feijão, carne de porco e farinha de milho grosso conhecido
como quirera ou quirela um tipo de milho quebradinho. E temos também o queijo
de minas e seus famosos pães de queijo. E lugares no nordeste que o consumo da
carne é racionada e cara para se comprar, coisa que para nós que moramos no
Sul, churrasco não pode faltar nos domingos e festividades familiar.
Mas há também nos encontros pós viagens, os causos que repassam o
sofrimento do caminhoneiro com sua profissão. Um é provocado pelo clima. O
calor infernal que assola o trajeto ou o frio cortante, gélido e repentino, que
requer roupas, cobertores e um café quente. Ou pior, a chuva de granizo. E a
carga precisa chegar no horário marcado, como diz o ditado. “Faça chuva ou faça
sol”, seja noite ou dia é preciso dirigir horas sucessivas para conseguir
chegar ao destino.
Outro impasse é para carregar e descarregar. Muitas vezes o caminhoneiro
leva dias parados, esperando até que estes serviços sejam realizados pela
empresa que o contratam. É preciso paciência e espírito iluminado para tal
tédio.
Mas desta vez, ouvi atentamente meu pai contar uma cena triste da
estrada. Sua voz e expressão facial demonstravam preocupação, tristeza e
angústia. Viajar para ele é como sangue pulsante, contínuo, necessário, uma
paixão. Só que naquele momento tinha no olhar e no pensamento a recordação de
um acidente. Este também é algo que
aflige quem diariamente está na boléia.
Formação de fila, faróis em alerta e logo a frente uma cena de horror.
Três veículos envolvidos. Um caminhão, um carro e uma caminhonete. O carro estava
destruído. Havia três mulheres com ferimentos leves incompatível com a
destruição do carro. A caminhonete ficou no acostamento do outro lado da via,
sem danos maiores com os passageiros. Até aí tudo bem. Mas quando os olhos do
caminhoneiro visualizam o caminhão, eis a triste cena. Um pai, um avô de rostos
ensanguentados e apavorados pediam socorro para tirar o filho/neto de
caminhoneiro que com o impacto violento da batida foi jogado para fora do
veículo e caiu com as pernas debaixo do tanque da carreta.
A criança amparada pelo avô, que sentado segurava sua cabeça dando-lhe
água para amenizar o calor e a agonia da dor cortante e esmagadora. O menino
gritava com os lábios roxos, por socorro ao pai que procurava com as mãos cavar
um buraco com esperança de livrar o corpo do filho sob as ferragens.
O caminhoneiro correu até seu caminhão para pegar uma enxada que leva
sempre como instrumento de apoio para horas difíceis e estradas irregulares. E
sem pensar no sol escaldante, no almoço que acabara de saborear e o fato de
estar em idade dos cabelos brancos a risco de um enfarte pelo esforço
inesperado pôr-se a cavar com todo fervor de suas forças. Sua mente só pensava
em ajudar aquela criança que nunca vira antes e que naquele momento
representava a imagem de um ente querido.
Outras pessoas se solidarizaram e com pás e enxadas continuaram
incessantemente a cavar um buraco para libertar as pernas do menino que entre
gemidos pedia para ser salvo.
Até que chegaram ambulâncias, policiais, bombeiros...e pediram para que
todos se afastassem e liberassem a pista. O caminhoneiro desolado teve que sair
sem poder terminar o que começou cavar o buraco para salvá-lo. Era momento de
deixar aquela cena aos cuidados dos profissionais. Mas triste seguiu com seu
caminhão sem conseguir saber qual foi o desfecho. Este foi um dos acidentes por
falta de prudência vistos por este caminhoneiro que já viu muita coisa e ainda
vivenciará outras para contar a sua família, a cada retorno de sua viagens.
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TEXTO PUBLICADO NO JORNAL NOTÍCIAS DO DIA E NA 6ª ANTOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO CONFRARIA DAS LETRAS
AO CAMINHONEIRO COM
CARINHO
O som do caminhão. Sonho de menino. Sem nunca ter visto tal veículo, era
embalado pelo som do ronco forte do caminhão que acelerava além das serras da
redondeza. Em sua imaginação de menino: ser grande, ter uma linda mulher e se
aventurar pelo mundo era uma grande felicidade. Desde pequeno também queria ter
uma família. Quem sabe passar o seu ofício também para os herdeiros. E o auge
ter até uma filha boa de boleia.
Entre porcos, galinhas e enxada, o pequeno cresceu. A escola era para ele
um trampolim para a estrada. Principalmente a matéria de geografia que lhe
ensinava os nomes dos lugares, suas localidades e distâncias e a Ciências, os
mistérios do ciclo da vida. A mãe até queria que ele seguisse a carreira na
escola, mas a sina de caminhoneiro já estava cravada em seu peito.
Além do espírito aventureiro, a curiosidade também foi ingrediente para a
formação do carreteiro, pois aprender de tudo um pouco auxiliaria para
desenvolver bem o ofício escolhido.
O início da profissão não foi fácil. Entre serras perigosas, estradas de
chão e cargas a lenhas e toras aprendeu as primeiras manobras com um Chevrolet
Brasil 1961, quatro marcha, sincronizado chamado carinhosamente entre os
caminhoneiros de Queixo Duro por ter direção mecânica.
O caminhão Ford 1964 foi o seu segundo companheiro de estrada. E com
orgulho comenta: - O primeiro motor a diesel fabricado no Brasil, o motor
Perkeins de cinco marchas, apelidado pelos apaixonados por viagens de Caixa
Seca por não ser automatizado.
Por outras aventuras foi o nobre caminhoneiro conquistar e seu pai deixou
na roça a chorar. Mas desejava desbravar o mundo e ali não era o seu lugar. E
de Mercedes 11 13 e depois de 20 13 de boiadeiro foi trabalhar, carregar boi do
Mato Grosso e muitas fazendas frenquentou. Há Maçarico Queixo duro, motor
aspirado não era turbinado mas era coisa nova no tempo que foi fabricado.
Depois veio o Scania 101 e também o 19 24 e o Volvo N10 20 e XH e com
eles muitos lugares deste Brasil ele foi conhecer, do Sul ao Norte, do Nordeste
ao Sudeste e até Centro-oeste o bravo carreteiro rodou estrada a fora ao som de
moda sertaneja daquelas que contam histórias tão poéticas que só no tempo da
viola se compunha tal melodia. Pois a saudade era tanta, em busca do sustento
que muitas vezes, meses ficava longe da família.
É assim que muitos caminhoneiros do mundo de Deus começaram seu fazer em
busca de abastecer a mesa alheia. Deixando a sua família na saudade e na
esperança da volta, para cumprir o seu destino com hora marcada de entrega.
Quantas noites sem dormir, quantos aniversários, nascimentos, enfermidades,
tristezas, alegrias dos filhos sem presenciar, quanta tristeza no olhar por
estar tão longe.
Mas sabe que a recompensa lhe espera além de levar o pão de cada dia às
mesas de tantas pessoas e confortos para seus lares. O maior é quando chega em casa. Vê a sua família à
espera para compartilhar suas aventuras. Em torno da mesa entre causos fantásticos
degusta um petisco servido pela mulher amada. E vislumbra os olhares de curiosidades
dos filhos gerados e educados entre uma viagem e outra trazendo a sabedoria
colhida de cada lugar por onde o caminhoneiro passou.
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Texto publicado de Eliana Aparecida de Quadra Corrêa no livro SAGANOSSA em 2014.
Um
Lugar para Sonhar
Um dia em minha cidade, uma cidade
pequena, bem pequena, (onde passei a minha infância), anunciaram:
- Hoje será aberta a primeira biblioteca
de nossa cidade, venham todos conhecê-la e carterinha poder fazer e com ela
desfrutar de boas leituras em seu lar.
Nossa nunca poderia imaginar, eu para
casa poder levar um, dois, três livros e então saborear, cada página, cada
ponto, cada vírgula, cada letra e sua história adentrar. Lembro-me até hoje da
história da Narizinho do Sítio do Picapau amarelo subindo no pé de jabuticabas
e comendo suas frutas. Água na minha boca e cheirinho em meu nariz,
transportava-me para aquele sítio, viajava no pó de pirlimpimpim.
De repente minha mãe dizia:
- Filha larga um pouco estes livros vem a
mãe ajudar. Tem louça, casa para limpar.
- Só um pouquinho! Eu dizia e a história
me envolvia e a hora eu esquecia.
Mãe
de novo me chamava:
- Filha, por favor, deixa para depois.
Então eu parava a minha leitura, mas
cabeça ficava lá passeando pelas páginas e figuras.
Mãe dizia:
- Preste atenção filha, onde está com a
cabeça esse prato não é aí, fica no outro lado da mesa!
E eu envolta com minhas ideias, meus
heróis e viagens por outras terras.
Livro para mim sempre foi meu cantinho
predileto, meu apego, meu sonho, meu lar, minha vida. E muitas vezes me
perguntava como uma pessoa que não vem de uma família letrada pode gostar tanto
de livro a ponto de desfrutar de cada linha lida e com ela poder sonhar?
Bem, como ia dizendo a biblioteca da
minha cidade continuava lá, bem pertinho da minha escola e da casa da vovó.
E a cada saída da escola um pulinho eu
dava lá, primeiro na biblioteca e depois na casa da vovó.
Na biblioteca me alimentava de palavras e
sabedoria e na casa da vovó da barriga, do carinho, da tradição oral e da
alegria.
Como ia dizendo me alimentava das
palavras e da sabedoria na biblioteca da minha cidade onde morava. Comecei
minhas leituras em livros pequenos e de aventuras, que falava de fábulas,
lendas e contos de fadas.
Com o tempo os livros passaram a ser
maiores. Queria mais informação, não só histórias fictícias como também
histórias verdadeiras e também informativas.
Foi quando passei a ler livros das áreas
de história, geografia, ciências, e até culinária. Tudo para mim era motivo de
aprender.
Quando eu ia à casa de meus avós que era
pertinho da escola e da biblioteca, encontrava o me avô já de entrada sentado
na varanda observando o movimento.
Beijos e...
- Bença nôno!
E antes de sentar...
- Bença nôna!
E lá da cozinha a nôna dizia:
- Deus te abençoe! Bichinho está roendo
seu estômago quer uma bolachinha?
(Aqui é bom eu me justificar eu chamava
os meus avós de nôno e nôna, coisas de tradição de família).
E então enganava o estômago com as
bolachas da vovó enquanto mamãe fazia a comida para a gente almoçar.
Enquanto isso sentava com o vovô e uma
prosa ia rolar. E ele viajava para o passado para me contar.
- Quando era pequenino e na escola eu ia
entrar. Só que era muito difícil frequentar. Primeiro que era muito longe da
casa da gente. E segundo o meu caderno era uma pedra rasa e se escrevia com
outra pedra que no final da aula tinha que apagar. Como estudar, eu não
lembrava o que tinha escrito e por isso acabei desistindo e na escola não fui
mais.
Eu ficava pensando, como posso ajudar o
meu avô a estudar? Aprender as letras e deste universo deleitar? E de vez
enquanto mostrava-o as letras de seu nome e ele as olhava com ar de vontade e
cuidado. E até tentava rabiscá-las como se fosse um artesão fabricando a letra
com cuidado e com muita perfeição. Lembro-me bem do seu P (Pois seu nome era
Pedro) que ele desenhava e dizia para não esquecer:
- Meu P é como um guarda-chuva aberto.
E então eu observava admirada pela sua
vontade de fazer sua neta alegre de vê-lo escrever.
Oh! Bela saudade, do meu avô que tanto me
alegrou, me aconchegou que me deu uma infância que toda criança gostaria de
ter.
Vovó não ficava atrás e suas histórias
também gostava de contar. Sempre digo:
- Ela parece a “Scherazarda” das Mil e
uma noites, pois suas histórias continuam em outras histórias as quais eu
ficava vidrada ouvindo-as sem cansar.
E ela contava suas histórias, histórias
de antigamente, dos tempos dos bugres que pegava crianças que desobedecia a sua
mãe e saia de perto de casa para brincar na floresta.
- Nana! Ela dizia.
- Naquele tempo a gente morava em uma
casinha bem longe de tudo, o tapete era umas folhas de árvore, a mesa e banco
era feito também com árvores do local. Cama era de mola e acoberta era feita de
pena de galinha. E as roupas eu mesma que fazia.
Nisso ela já emendava:
- Eu costurava pra fora sempre de noite,
porque de dia trabalhava na roça. Usava luz de lamparina...
O apito soava na cidade era meio dia.
E vovô dizia:
- Meu dia, panela no fogo, barriga vazia!
Vamo comê?
Eu não resistia almoçava na casa da vovó,
sua comida sempre foi uma delícia. Pensa em comida caseira, do sítio, arroz
branco, galinha ensopada. Legume cozido e muita salada, hum... só
experimentando para saber. É manjar dos deuses...
Bem, o problema é que mamãe também fazia
o almoço e aí se não almoçasse e então pra casa eu ia correndo para que seu
almoço me alimentasse.
- De novo na casa da vovó, olha a bolacha
antes do almoço! Mamãe dizia.
Mal terminava o almoço, os livros me
convidavam.
- Vamos viajar!
E então lá eu ia, para a porta me sentar
e os livros começava a saborear.
Um dia fui convidada para ir brincar na
casa de uma coleguinha. Vocês não vão acreditar! O que eu encontrei lá.
Um tesouro, coisa rara. E esta imagem
ficou gravada em minha memória que eu vou contar.
Uma coleção de livros de contos de fadas
e na capa as imagens se modificavam conforme mexia o livro a criançada. E ainda
por cima os livros não eram emprestados. Eram dela, ela tinha ganhado de
presente de aniversário.
Isso me impressionou, pois ter livros em
casa para sempre, para ser meus, ter meus, cuidados e serem lidos quantas vezes
eu quisessem seria tudo para uma criança leitora como eu.
O problema era como ter livros em casa,
teria que comprar! E eu vivia em uma época que presente era boneca.
Não que eu não gostasse delas. Mas livro
para minha família não era brinquedo e sim coisa séria da escola. Por isso o
tempo foi passando e eu ficando só na vontade de ter livro de verdade.
E eu ia brincando de fazer de conta, como
não tinha o livro sempre comigo inventava histórias de momento.
Meu irmão é que desfrutava das histórias
que eu inventava, o problema era quando e quase sempre ele pedia:
- Conta de novo!
E se eu não contasse igualzinho, ele
dizia:
- Mana, não é assim, conta direito.
E ele todo dia antes de dormir pedia:
- Mana, conta uma história. E lá eu ia
inventando mais uma história de momento.
Quando sai da minha cidade já estava
adolescente. Fui para a cidade grande pois papai sonhava em tirar a sorte
grande.
Queria ganhar dinheiro e uma vida melhor
poder nos dar. E quem sabe a sementinha do estudo aos filhos poder plantar.
Papai sempre deu duro, viajou quase o
Brasil todo atrás do nosso sustento. E quando Chegava era como um ritual. Ele
sentava na sua cadeira predileta e histórias da estrada começava a nos contar.
- Estava andando pela estrada perto de
São Paulo... Minas Gerais... Mato Grosso...
E assim ia contando tim-tim por tim-tim.
E sempre enfatizando as cidades, estados que ia passando e por isso a geografia
sempre foi o seu grande apreço.
- Se eu fosse estudá ia estudá a
geografia.
Papai parou de estudar porque primeiro
era a escola era muito longe de casa e segundo porque ele queria viajar o sonho
de ser caminhoneiro chamava mais alto em seu peito derradeiro.
Mamãe aprendeu desde cedo, desde quando
se casou, que mulher de caminhoneiro vive sempre na espera.
Mamãe sempre cuidou da gente com muito
esmero e carinho e do seu jeito sempre incentivava a sermos bons filhos,
pessoas de caráter.
Bem, vindo para a cidade grande logo eu
quis saber onde fica a biblioteca desta cidade para eu poder ler e reler as
histórias?
Foi quando eu conheci, a Biblioteca
Municipal Prefeito Rolf Colin e era muito maior a biblioteca da cidade de onde
vim. Tinha muito mais livros, os quis eu não conhecia.
E então, resolvi que começar minhas leituras
nesta biblioteca eu iria sim. E no setor de Literatura foi o meu maior
condutor. Estava naquela fase que livro de “romance” era a palavra-chave e
quanto maior e mais páginas tinha este é que era bom de verdade.
O setor de pesquisa também foi um lugar
muito frequentado por mim. A cada pesquisa solicitada pela escola, era no setor
de pesquisa que eu passava horas a pesquisar.
Vocês não vão acreditar e aos professores
me desculpar, eu “gazeava” aula da escola para a biblioteca visitar e poder ter
o gostinho de uma obra apreciar. E eu sempre fui daquela leitora que demorava
um tempão para escolher o iria ler. Pois para mim, isso era que fascinava,
pois, quanto mais eu demorava, mais vontade de conhecer os livros eu acabava
tendo.
Um dia visitando a biblioteca com uma
amiga muito triste nós ficamos. Vimos o setor infantil abandonado, revirado,
sem ninguém para cuidá-lo.
- Que pena! Pensamos.
- Um lugar como este sem ninguém para
cuidá-lo, para que as crianças possam desfrutá-lo.
E ficou aquela vontade de deste cantinho
poder um dia cuidar. E dar a oportunidade a muitas crianças poder admirar,
sonhar, viajar e sentir o que eu senti quando criança a uma biblioteca entrei.
E olha como o mundo dá voltas.
E quando alguém quer muito e acredita que
pode, que sonho pode se tornar realidade. Hoje estou aqui neste cantinho do
setor infantil. Cuidando com muito carinho dando oportunidade as crianças de
desfrutar das histórias do mundo do faz de contas.
Biblioteca lugar mágico que eu sempre
terei em meu coração boas lembranças, eterna gratidão.
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TEXTO PUBLICADO NA PÁGINA DA CONFRARIA DO ESCRITOR NO JORNAL NOTÍCIAS DO DIA EM 16 E 17 DE MARÇO DE 2014
AO CAMINHONEIRO COM
CARINHO
O som do caminhão. Sonho de menino. Sem nunca ter visto tal veículo, era
embalado pelo som do ronco forte do caminhão que acelerava além das serras da
redondeza. Em sua imaginação de menino: ser grande, ter uma linda mulher e se
aventurar pelo mundo era uma grande felicidade. Desde pequeno também queria ter
uma família. Quem sabe passar o seu ofício também para os herdeiros. E o auge
ter até uma filha boa de boleia.
Entre porcos, galinhas e enxada, o pequeno cresceu. A escola era para ele
um trampolim para a estrada. Principalmente a matéria de geografia que lhe
ensinava os nomes dos lugares, suas localidades e distâncias e a Ciências, os
mistérios do ciclo da vida. A mãe até queria que ele seguisse a carreira na
escola, mas a sina de caminhoneiro já estava cravada em seu peito.
Além do espírito aventureiro, a curiosidade também foi ingrediente para a
formação do carreteiro, pois aprender de tudo um pouco auxiliaria para
desenvolver bem o ofício escolhido.
O início da profissão não foi fácil. Entre serras perigosas, estradas de
chão e cargas a lenhas e toras aprendeu as primeiras manobras com um Chevrolet
Brasil 1961, quatro marcha, sincronizado chamado carinhosamente entre os
caminhoneiros de Queixo Duro por ter direção mecânica.
O caminhão Ford 1964 foi o seu segundo companheiro de estrada. E com
orgulho comenta: - O primeiro motor a diesel fabricado no Brasil, o motor
Perkeins de cinco marchas, apelidado pelos apaixonados por viagens de Caixa
Seca por não ser automatizado.
Por outras aventuras foi o nobre caminhoneiro conquistar e seu pai deixou
na roça a chorar. Mas desejava desbravar o mundo e ali não era o seu lugar. E
de Mercedes 11 13 e depois de 20 13 de boiadeiro foi trabalhar, carregar boi do
Mato Grosso e muitas fazendas frenquentou. Há Maçarico Queixo duro, motor
aspirado não era turbinado mas era coisa nova no tempo que foi fabricado.
Depois veio o Scania 101 e também o 19 24 e o Volvo N10 20 e XH e com
eles muitos lugares deste Brasil ele foi conhecer, do Sul ao Norte, do Nordeste
ao Sudeste e até Centro-oeste o bravo carreteiro rodou estrada a fora ao som de
moda sertaneja daquelas que contam histórias tão poéticas que só no tempo da
viola se compunha tal melodia. Pois a saudade era tanta, em busca do sustento
que muitas vezes, meses ficava longe da família.
É assim que muitos caminhoneiros do mundo de Deus começaram seu fazer em
busca de abastecer a mesa alheia. Deixando a sua família na saudade e na
esperança da volta, para cumprir o seu destino com hora marcada de entrega.
Quantas noites sem dormir, quantos aniversários, nascimentos, enfermidades,
tristezas, alegrias dos filhos sem presenciar, quanta tristeza no olhar por
estar tão longe.
Mas sabe que a recompensa lhe espera além de levar o pão de cada dia às
mesas de tantas pessoas e confortos para seus lares. O maior é quando chega em casa. Vê a sua família à
espera para compartilhar suas aventuras. Em torno da mesa entre causos fantásticos
degusta um petisco servido pela mulher amada. E vislumbra os olhares de curiosidades
dos filhos gerados e educados entre uma viagem e outra trazendo a sabedoria
colhida de cada lugar por onde o caminhoneiro passou.
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TEXTO PUBLICADO NA PÁGINA DA CONFRARIA DO ESCRITOR NO JORNAL NOTÍCIAS DO DIA EM 16 E 17 DE NOVEMBRO DE 2013
Já era tempo de se casar
No interior, namoros não esquentam
fogão. São rápidos. As pessoas geralmente se conhecem desde cedo. As famílias
já têm afinidades. E também assim evitam-se mau falatório. Então para que
esperar. Mas esse namoro estava cumprido. Era hora de casar.
Enxoval é coisa preparada desde
cedo. Entre crochês, bordados e costuras os lençóis, toalhas de banho, mesa e
decorações eram confeccionadas com destreza pela noiva e a mãe da noiva.
O noivo e seu pai preparavam o corte da madeira, o encaminhamento desta à
madeireira para transformá-las em
tábuas. Em seguida na construção da humilde casa de três
quartos, sala e cozinha, sem esquecer do fogão à lenha feito de pedra para
prover a comida do novo casal.
Entre preparativos para o casório, os encontros do casal enamorados
aconteciam na sala da casa da noiva, entre olhares desconfiados do pai e
atenciosos da mãe.
E sonhos de uma vida feliz, rodeada de filhos envolviam o casal, a espera
do tão sonhado momento de concretizá-lo perante Deus, o laço matrimonial.
Eis que chega a tão esperada festa. Todos da família estavam convidados.
Tios, primos, avós, padrinhos eufóricos com o evento. A igrejinha da localidade
pronta, decorada com flores do campo.
Na casa da noiva a correria, um boi tinha sido preparado para a ocasião e
o cheiro do assado estava no ar. Na cozinha, mulheres se revezavam no fogão
preparando pratos para recepcionar os convidados. E muita cachaça já rolava
animando os homens na empreitada de puxar mesas, bancos, improvisar tendas (no
caso de chuva repentina). E a decoração com muita folha de bananeira, rosas e
margaridas deixavam o ambiente romântico para a ocasião.
A noiva, com ajuda de suas madrinhas, arrumava-se no quarto, cuidando
para que o noivo não a veja antes do casamento (dizem que dá azar). O noivo,
todo nervoso. Entre gole de cachaça pedia para o padrinho arrumar a sua
gravata.
E assim foram. O noivo (como segue a etiqueta) chegou primeiro a
igrejinha toda enfeitada de flores do campo. A noiva logo em seguida chegou a
trote do cavalo que ganhou quando criança. Um amigo inseparável da menina
roceira, que agora era a noiva.
A cerimônia emocionou com lágrimas de felicidade. Ao sair da igreja uma
chuva de arroz para dar sorte ao casal. E rumo a festa na casa do pai da noiva.
Após o jantar, a valsa dos noivos e um arrasta pé animou a noite. Até que
resolveram leiloar a gravata do noivo. Quanto mais dinheiro os convidados
davam, maior era o pedaço da gravata. Até aí, tudo bem. Mas além da gravata, a
pessoa ganhava um número para concorrer a uma porca.
A animação era geral. Era quem podia dar mais para ganhar a porca. No
sítio, uma porca pode alimentar várias bocas para um bom tempo. Era o prêmio.
Hora do sorteio. Suspense no ar. O padrinho do noivo que tinha feito toda
arrecadação anunciou:
- Número 13.
Tio da noiva todo animado, pulando
de alegria, gritou:
- Sou eu, sou eu! Eu ganhei!
Feliz da vida foi receber o seu prêmio.
Surpresa. Entregaram a ele uma porca. Uma porca de parafusos.
Risada geral.
Peças e peripécias da família.
E o casal?
Como em muitos casamentos, saíram cedo, na surdina, para curtir a lua de mel, enquanto os
convidados aproveitavam a festa, num arrasta-pé frenético até de madrugada.
CAUSOS PUBLICADOS NO LIVRO "ENTRELINHAS LITERÁRIAS" EM 2011
DE ELIANA APARECIDA DE QUADRA CORRÊA
Vivia no interior, no sítio perto de São Francisco. E lá eu tinha um amigo, um amigo negro, e por ser bem escuro o pessoal apelidou-o de “Leite”. E todo mundo só o chamava assim.
Leite também vivia no sítio, mas trabalhava na cidade, bem no centro de São Chico. E por isso saia de casa bem cedinho, lá pelas quatro horas da madrugada, pois ia à pé, pela estradinha afora até chegar ao seu destino. Todo dia fazia o mesmo percurso, a mesma rotina. Só que um dia meu amigo “Leite” passou por um apuro. Saiu cedinho de casa e lá pelas tantas, começou a chover, a chover tanto que virou tempestade. E ele para se proteger da chuva parou em uma casinha na beira da estrada. E ficou ali encolhidinho para não se molhar.
Lá pelas tantas como a chuva não parava, resolveu bater na porta para pedir ajuda.
- Tum, Tum, Tum...
- Quem é?
Perguntou o dono da casa que estava no seu quarto deitado.
- É o “Leite”!
Gritou o meu amigo.
- Há, o leite! Pode deixar na porta!
Nesta época havia o leiteiro que levava o leite nas casas de madrugada e o dono da casa pensando nisso não o atendeu.
De manhã, após a chuva passar o dono da casa foi pegar o suposto leite na porta. E sabe o que ele encontrou?
Meu amigo “Leite” duro de frio.
Cartinhas para arranjar marido
Um dia minha “nona” veio com uma historia, um de seus causos de antigamente.
- Sabe por que muitas mulheres não sabiam ler e escrever?
- Não sei “nona”, por quê?
- Para ao arranjar marido!
- Como assim “nona”?
Fiquei curiosa! E era isso que ela queria. Ver a neta curiosa para fazer toda aquela magia para entrar na história.
E foi contando que antigamente no tempo do pai dela. Não era as moças que escolhiam os maridos e sim o “pai”.
Por isso muitas menininhas ficavam em casa e não iam à escola.
- Pra que aprendê a escrevê!
Dizia o pai!
- É , melhó aprendê a cuzinhá, a lavá e a cuidá bem da casa. Se prepará pra quando ficá moça ser mulhé prendada, que cuida bem do marido. E marido eu escolho quando for hora certa. Caba Agora si essa meninada aprendê a lê e escrevê, vai acabá de cabeça virada.
E lá ela contava que um dia ela mesma viu o caso. Uma moça que sabia escrevê enrolou o seu pai com cartinhas para um moço bem apessoado. Que ia visitar a família com quem não quer nada, só prosa. Lá pelas tantas depois do jantar a moça aparecia e disfarçadamente entregava a cartinha. E assim iam namorando. Na próxima visita ele disfarçadamente entregava a sua cartinha com a resposta. E quando o pai percebeu o namoro estava firmado e o casamento era inevitável.
Por isso minha “nona” dizia que pai que não queria que filha escolhesse marido estudo não lhe oferecia. E então não tinha cartinha.
Um comentário:
Caríssima Eliana e familia estimo que estejam bem.,
em pesquisa Te encontrei (Você tem algum comentário a respeito da Lenda do Saci...,preciso para trabalho em aula. Seu conto muito interessante.
Te adicionei.
Felicidades à Todos...
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