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TEXTO PUBLICADO NO JORNAL NOTÍCIAS DO DIA EM 14 DE ABRIL DE 2014





 Feira do Livro de Joinville

Eliana Aparecida de Quadra Corrêa


Organização a flor da pele. Dias que antecedem uma Feira do Livro. Detalhes de última hora a serem resolvidos para a praticidade na divulgação do objeto livro. Rumores pela cidade de artistas globais que estarão se apresentando com seus escritos. Pequenos shows a parte. É o que impulsiona o povão a comparecer. Escritores renomados também fazem parte desta listagem proporcionando as livrarias e distribuidoras vendas mais quentes e a procura de autógrafos com eloquência.
Escritores e artistas locais se alegram com oportunidades de lançarem suas produções, nem sempre com tantos fãs a sua procura. Processo da escrita e do reconhecimento. Meta, associar-se. Esperança de caminhada com o livro menos árdua e possibilidade de troca de experiências, publicação e divulgação em grupo letrado.
Estandes repletos de novidades. Aguça olhares famintos de conhecimentos. Como não compra-los. Variedades de preços e estilos. Escritos para todos os gostos. Até o não leitor acaba encontrando algo e lhe agrade. Como uma revistas e livros de dicas culinárias, história de jogos de futebol, sugestões de marcas de carros luxuosos, livros infantis com personagens de desenhos animados com figurinhas auto colantes que de histórias não tem nada, mas chama a atenção da criançada e geralmente são os mais caros.
O bom leitor passeia com calma pela Feira. Não compra por impulso. Vai informando-se. Aproveita a lábia do bom vendedor para adquirir conhecimento. Pesquisa preço. Procura o livro como pirata procura tesouro. Sem pressa até encontra-lo em uma ilha deserta e desenterrá-lo para uma aventura desbravadora pelos mares das letras.
Tem também as turmas escolares. Sem dúvida este público é especial. Professores e alunos circulam freneticamente pelos estandes. Pena que o tempo é curto para tantas novidades: contações de histórias, apresentações no palco, palestras, encontros, mesas redondas, oficinas, autógrafos, curtas de cinema, lançamentos de livros, compra de livros, e a hora do lanche? É passeio de estudo para alimentar a alma e o estômago.
Nessa correria toda, pessoas e livros convivem em harmonia. O livro à espera de um leitor. E o leitor à procura do livro ideal. É nesta procura que momentos especiais acontecem. Um grupo escolar com olhos atentos ouvem uma poeta declamar um poema de amor de sua autoria. Ao término da apresentação a turma segue o professor a procura de outras novidades. Passa-se um tempo, dois meninos do grupo escolar voltam ao estande onde estava a poeta.
Um menino diz:
- Quero comprar o seu livro.
O outro menino que o acompanhava esboça um sorriso e comenta:
- Ele quer dar de presente para ela (uma colega de sala) ele gosta dela.
O menino não fala nada, apenas concorda com timidez. E o livro em forma de poesia vai iluminar o amor inocente de criança levando sentimentos de valorização as nossas preciosidades.
Outra situação empolgante fruto de uma Feira. Um homem a procura de um livro. Conversa em estande. Encontro com uma escritora. E a alegria do livro encontrado. Chama a esposa.
- Amor, achei um livro especial para nós. Vai ajudar nossa caminhada e fortalecer nossa união.
A felicidade é tanta que o casal resolve compartilhar o tesouro achado com outro casal amigo. E estes não conseguem resistir ao livro amigo.
Parece conto de fada. Mas livro é assim. Quando toca o coração do leitor torna-se objeto amado, desejado, cobiçado, um ente querido.


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SATISFAÇÃO EM ESTAR INSATISFEITO

Artigo publicado no jornal Notícias do dia de Eliana Aparecida de Quadra Corrêa em 14 de fevereiro de 2014.



Parece até engraçado, como há pessoas que gostam de reclamar. Uma satisfação estar insatisfeito com tudo. Será o mal da contemporaneidade? Ter em excesso e se sentir que nunca está bom o bastante? Pego-me observando as pessoas no dia a dia em seus atos e comentários. E isso ocorre com tudo, desde artigos mais fúteis aos mais necessários para a sobrevivência humana. Parece que quanto mais se tem, pior é.
Vejo crianças, que ainda poderiam estar aproveitando o mundo de faz de conta e brincando com o imaginário, ficar horas em frente da televisão, computador, tablet (não que eu seja contra a evolução tecnológica, mas sim, ao uso obsessivo) sentindo-se insatisfeitos por não terem “ainda” o brinquedo da última geração, já que o brinquedo adquirido na semana passada está ultrapassado. Estes por sua vez tornando-se jovens que não vestem uma roupa se não forem da marca do momento. E adultos que gastam mais que ganham e assim em efeito cascata, o mundo caminha para um futuro incerto e aterrorizante. Onde vamos parar com a insatisfação?
Mas tudo isso relatado foi por causa de um fato recorrente neste verão a muito não visto nestes últimos anos. Dias consecutivos de um verão de céu azul belíssimo sem nuvens e de um calor praiano e convidativo para a curtição em família, com amigos ou com a pessoa amada.
Lendo o jornal, meus olhos deslizam em palavras: massa de ar quente e seco, que se instalou em Santa Catarina na última semana de janeiro até meados de fevereiro com temperaturas de 30ºC no final da manhã e 40ºC à tarde com sensação térmica de até 50ºC com índices ultravioletas em extremos. Em outra reportagem: Joinville foi líder do ranking mundial com a sensação térmica de 52 graus no dia 31 de janeiro de 2014 sendo a maior marca registrada nos últimos 103 anos.
Vem a constatação, mês de janeiro e fevereiro com poucas chuvas principalmente em Joinville, conhecida como a cidade da chuva. Quantos verões anteriores que tivemos até enchentes por causa da grande quantidade de água mandada pelas nuvens escuras e densas, os temporais que destruíram casas e famílias inteiras. Não que estou reclamando da abençoada chuva que vem do mansinho trazendo o frescor em nossos dias.
O que eu quero aqui é apontar para insatisfação humana. Faça sol ou faça chuva, nunca está bom o suficiente para agradar ao “refinado” gosto contemporâneo.
Temos a oportunidade do uso da tecnologia para amenizar o calor excessivo nos confortando com o frescor do ar-condicionado, piscinas de todos os tamanhos, a beleza da natureza com banhos em rios, cachoeiras e mares, a brisa do final da tarde. Já houve tempos que não havia nem ventiladores e as pessoas se refrescavam com os charmosos leques, andavam com sombrinhas e chapéus para se protegerem do sol e assim por diante.
Sei que os pessimistas podem pensar que isto é um cúmulo. Mas pense: Se estamos passando por este calor escaldante, não é também fruto da nossa insatisfação gerada pelo consumismo?


Eliana Aparecida de Quadra Corrêa




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COMO INCENTIVAR A LEITURA

Publicado no dia 26 de setembro de 2013 no jornal A Notícia por Eliana Aparecida de Quadra Corrêa





O gosto pela leitura não nasce com a criança, mas pode ser desenvolvido com a ajuda de pais e educadores. O professor pode semear nos alunos o amor pela leitura. Somente o professor pode intuir o que convém fazer num determinado momento para ajudar o aluno a aprender a ler.
Este papel é muito difícil que o já consagrado, exige muito mais esforço do professor. Mais fácil seria ter um planejamento definido, para ser cumprido passo a passo. No entanto, por melhor que seja um planejamento é impossível que ele dê conta de todas as questões inferentes ao processo de aprendizagem do aluno, uma vez que este processo é único e individual.
Se a questão da leitura é mobilizadora e de interesse para o professor, seu próprio comportamento de leitor, torna-se uma estratégia utilizada por ele e poderá nesta fazer descobertas que melhorem sua própria performance de leitor e aperfeiçoe  seu  processo de ensinar a ler.
Em sua prática cotidiana, o professor ao assegurar demonstrações de leitura aos alunos, situações que sirvam a objetivos específicos, podem auxiliar seus alunos a encontrar sentido e seus próprios objetivos com a leitura.
Não se dispõem fórmulas para garantir que a leitura seja compreensível e prazerosa. Sabe-se, entretanto, que há várias maneiras de dificultar a compreensão e o prazer na leitura: se orientarmos o aluno para concentração em detalhes visuais, se fornecemos fragmentos de textos incompreensíveis ou amontoados de frases sem real significado de comunicação, se exigimos que ela responda a questões após a leitura sem reflexão, se lhe pedimos para oralizar palavras em detrimento do sentido. Ou seja, o ponto comum de todas essas atitudes de ensino que dificulta a aprendizagem da leitura é a limitação de quantidade de informações não-visuais a que ao aluno pode recorrer enquanto lê.
Para facilitar o processo de leitura deve-se garantir aos alunos amplas possibilidades de usar informações não-visuais, possibilidades de fazer previsões, compreender e ter prazer no que lê. E é importante dispor de momentos de contato com a diversidade de textos literários buscando valorizar os gostos de leitura dos alunos e ao mesmo tempo dar oportunidade de conhecer outras formas de escrita.
Outra questão que o professor pode utilizar para incentivar seus alunos ao hábito da leitura é organizar projetos de leitura, levá-los em eventos culturais como: lançamentos de livros, teatros, contações de histórias, feiras de livros, seminários e encontros com escritores locais.
Por exemplo, visitar a Biblioteca Pública e incentivá-los a serem sócios e utilizar o espaço como lugar de entretenimento e democratização da leitura. Participar de ações como a Garrafa da leitura (conhecer escritor local através de dinâmica, conversa e contação de histórias na Biblioteca Pública Prefeito Rolf Colin). Mostra anual de Contação de histórias do Proler. Fala do escritor na Feira do Livro (Escritores da Confraria do Escritor e da Associação Confraria das Letras de Joinville). Peças de teatros apresentados pela AJOTE e pelo SESC e entre outras ações disponibilizadas pela nossa cidade com intuito de sensibilização ao hábito da leitura.
   A literatura é uma arte poderosa. Ao ler, o aluno adquire saber, amplia sua visão de mundo, enriquece seu vocabulário, desperta sua sensibilidade, criatividade e escreve com mais facilidade. Além de ingressar num mundo de fantasia a ser descoberto.

Enfim, segundo Barbosa “O que realmente importa é que a criança progrida na leitura e que encontre prazer – e sentido – nos múltiplos contatos com a língua escrita. Professores e crianças, nesse sentido, podem ser verdadeiros parceiros para aprender o que é o ato de ler”.








A Escola no Mundo Globalizado



            Vivemos em um mundo globalizado, e estamos na era digital e muito é preciso traçarmos novos caminhos para que se atinja os objetivos idealizados em uma proposta educacional que pense a educação como solução para os problemas que a humanidade vem enfrentando, ora por problemas ambientais, ora por problemas sociais, políticos e culturais.
             A partir da facilidade de troca de informações, como meio de possibilitar a troca de conceitos em uma perspectiva crítica capaz de idealizar e planejar uma proposta pedagógica eficaz, fazendo com que os educandos conheçam os quatros pilares da educação: “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, e aprender a viver juntos”. Coerentemente com essa visão, defende-se que o professor também deve aprender a aprender, também devem construir seus conhecimentos.
            A era digital é também a era da informação, da comunicação, ferramentas favoráveis à disseminação de ideias, trocas de experiências e conhecimentos, conhecimentos esse que envolve a busca de informações específicas, com níveis elementares de operações cognitivas, etc. Mas é necessário encontrarmos novos caminhos para alcançarmos os objetivos almejados em uma proposta política pedagógica, através de discussões sobre a democratização do ensino como meio de mediação entre o conhecimento histórico elaborado e a cultura do sujeito, possibilitando que este se ressignifique a sua realidade, para que a pedagogia seja capaz de dar conta da formação daqueles que irão trabalhar profissionalmente em nossa comunidade.
          Por isso, que a escola precisa se adequar a essas novas perspectivas de educação, para atingir a este mundo globalizado e de múltiplas culturas. Atendendo as necessidades de educandos contemporâneos que vivem no universo digital e efêmero. E é neste contexto que a formação integral deva caminhar, buscando nos interesses desta nova geração, em suas habilidades e nos seus conhecimentos prévios possibilitando espaços de aprendizagem e prazer em aprender a aprender.
      Portanto, envolvendo o movimento da era digital como instrumento educacional, valorização das habilidades do educando, o seu conhecimento local, sua cultura e diversidade e colocando em prática o conhecimento dos quatro pilares da educação poderemos ter um universo educacional mais preparado para esta nova geração. Pois queremos para nossos filhos e para nós, uma escola na qual os educandos possam realizar movimentos de ação e reflexão e aprendam a ser, a conviver, a agir e inovar. Deixando de ser meros reprodutores de conhecimentos, mas sim, transformadores de ideias em busca de uma sociedade melhor.

Artigo Publicado no jornal A Notícia no dia 29 de setembro de 2012 por Eliana Ap. de Quadra Corrêa




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JOINVILLE, MITOS E MEMÓRIAS: O BOI-DE-MAMÃO

Eliana Aparecida de Quadra Corrêa
Mestranda em Patrimônio cultural e Sociedade/UNIVILLE sob orientação da Profa Dra Taíza Mara Rauen Moraes

Artigo  científico publicado no livro Anais  VII Abril Mundo 2012 Literatura Africana e Afro-brasileira organizado por Sueli de Souza Cagneti e Sonia Regina Reis Pegoretti, páginas 133 a 142.

RESUMO: A proposta do trabalho intitulada “Joinville, mitos e memórias – o Boi-de-mamão” enfoca a cultura imaterial joinvilense. A metodologia utilizada foi a história oral com coletas, registros e análise de causos e lendas narradas sob a ótica de idosos migrantes nascidos antes da década de 1950, abordados como manifestação e representação popular e social da cidade. Para esta comunicação propõe-se a análise da lenda Boi-de-mamão retirada da entrevista do seu Luiz Diomedes do Nascimento, cotejada por olhares históricos, literários e sustentados por conceitos de mito, rito, símbolo, lenda e em suas variações encontradas na literatura oral brasileira. Nesta narrativa, observa-se diversas interpretações, manipulações sociais, de caráter simbólico, que mesclam aspectos das culturas: portuguesa, negra e indígena.

PALAVRAS-CHAVE: Boi-de-mamão; vozes de idosos migrantes joinvilenses; cultura imaterial.


Mitos e memórias são os aspectos essenciais deste trabalho, que busca por intermédio da história oral conhecer e compreender as histórias contadas e vivenciadas por seu Luiz Diomedes do Nascimento, nascido antes da década de 1950 e migrante em Joinville, Santa Catarina, trazendo em sua bagagem além de seus objetos pessoais, lembranças da cidade natal, da infância e das histórias contadas pelos familiares, principalmente pelos avós.
O campo de pesquisa foi a Biblioteca Pública Prefeito Rolf Colin, no bairro Anita Garibaldi. Local onde ocorreu a entrevista e foram narrados histórias de literatura oral, causos e lendas comuns em Joinville. Para este artigo foi proposto à análise da lenda do Boi-de-mamão resultado da coleta de memórias do entrevistado, cotejadas com olhares históricos e literários. Visto nesta narrativa diversas interpretações, manipulações sociais, de caráter simbólico, misturando aspectos das culturas: portuguesa, negra e indígena.
A lenda, Boi-de-Mamão, apresenta em seu enredo o mito épico da morte e ressurreição através da dança e cantoria. Encontrada em várias partes do país as brincadeiras e os folguedos1 em torno do boi recebe diferentes nomes em todo o Brasil. No nordeste, esta lenda é conhecida como Bumba-Meu-Boi ou Boi-Bumbá e no litoral catarinense com o nome de Boi-de-Mamão. Segundo o historiador José Arthur Boiteux (apud Graça, 2001), a brincadeira era conhecida no litoral de Santa Catarina como Boi de Pano, mas certa ocasião,foi utilizado um mamão verde para fazer a cabeça do boi, originando o nome de Boi-de-Mamão. Hoje, usam vários materiais para confeccionar a cabeça do boi. O registro mais antigo do folguedo é de 1871, em Florianópolis.
Em suas memórias de menino, na cidade de São Francisco do Sul, Seu Luiz conta a lenda Boi-de-Mamão. A história contada por seu pai e irmãos mais velhos foi vivenciada por intermédio de ritos na infância, no período da Páscoa.
Tenho várias [histórias], por exemplo, por exemplo, a o boi-de-mamão. Na nossa região é muito comum, a gente praticava, fiz vários brinquedos deste quando pequeno, criança, ensinado pelos meus pais e pelos irmãos mais velhos. O boi-de-mamão, conta a lenda que na época da Páscoa, foi feito uma partilha, e pegaram o boi mais bonito, o gado mais bonito do rebanho e mataram para distribui na festa. Mas ele era muito mimado e revoltou-se com a morte. “Não quero morrer, não quero morrer”. Mas finalmente foi morto e foi pra panela. Retalharam todinho. E distribuíram a carne por toda a comunidade. Só como eu disse, ele ficou revoltado. Eis que um dia todos se preparam para a festa depois que comeram o boi, apareceu o espírito do boi na comunidade e fez um espalhafato, como se diz lá na minha terra. E dava cabeçada em tudo é que lado. E corria atrás principalmente daqueles que comeram ele. Aí alguém teve uma ideia. “Opa! Esse boi merece ficar na nossa saudade. Vamos fazer uma homenagem a ele.” Alguém correu no quintal, cortou um mamão verde, colocou um, espetou uns chifres, colocou um [...] no lugar da orelha. Enfiou um cabo de vassoura, fez um mastro e cobriu com pano e brincou ali embaixo como se fosse um boi de mamão. Um outro sugeriu que o boi de mamão só não causava tanta alegria. Inclusive a homenagem era em relação ao falecido que ficou revoltado com isso, né? Foi lá e arranjou uma bernunça, pra ensinar que jacaré come criança, mais ou menos parecido assim. Veio outro vestido de cabritinho. Outro de cavalinho. E outro de cabrito. E hoje em dia tem esse folclore. Aí o pessoal fica assim com os instrumentos guardado para a folia de reis e tambores, batucaram e deu no que deu hoje em dia, esta festa bonita que tem. Dizem que tem em outras regiões, mas a lenda da nossa região, que eu saiba que eu ouvia dos meus pais era essa. Tudo tem que ter uma explicação. (NASCIMENTO, entrevista [21 fev. 2011]).

Percebe-se, na versão de Seu Luiz, que o Boi-de-Mamão, é uma tradição antecedida por uma preparação ritualística, uma cultura de identificação de um povo com os bois, em comunidade católica. Conforme a lenda rememorada por Seu Luiz, ela revela o mito da ressurreição de Cristo, representado pela morte e ressurreição do boi. Na história bíblica, segundo Marcos, Jesus Cristo antes do seu sacrifício, reuniu-se com os apóstolos para a última ceia (Santa Ceia) e lá repartiu o pão e o vinho, representando o seu corpo e sangue como alimento espiritual. Após, o ritual da Santa Ceia, Cristo foi crucificado para a redenção dos pecados e salvação do povo (1998). Esta representação cristã e católica é vivenciada com o boi, que morre em sacrifício para ser alimento do povo e trazer com a sua ressurreição o espírito de esperança, vida nova e alegria aos festejos da Páscoa.
Outra variante, da lenda do boi, circulante no litoral de Santa Catarina, registrada por Pisani (2003) acontece entre junho a agosto, período das festas dos santos2 e dos festejos da colheita. Nesta versão, conta a lenda, que o boi era de estimação de Mateus, homem simples do interior da ilha. O boi comeu algo que lhe faz mal e acabou morrendo. Desesperado, diante da morte do boi, seu dono buscou ajuda do curandeiro para ressuscitá-lo. O boi ressuscitou, e toda a freguesia festeja. 
Nas vivências ritualísticas, desta variante do Boi-de-mamão, segue um ritual descrito por Pisani (2003): os grupos percorrem as ruas do bairro, e se apresentam em frente da casa daquele que contribui com alguns trocados, o dono da casa é mencionado nos versos. Em círculo, cantadores e tocadores acompanham o desfile. No desfile, aparece primeiro o boi sendo cutucado com uma vara pelo seu dono, e o animal cai inerte. É chamado o feiticeiro ou benzedor, nesse ínterim, aparece o urubu para bicar o boi, em seguida o boi é benzido, então ele se levanta. Momento em que a música recomeça e entra o cavalinho para laçar o boi. Em cada cidade catarinense, segundo Pisani (2003), outros personagens são inseridos neste universo que circula em torno do boi, como o cavalo marinho e o cachorro em Laguna, o urso em Imaruí, Santo Amaro, Biguaçu, São José, Palhoça, e Florianópolis. A Maricota em Florianópolis, São Francisco do Sul, Itajaí, Santo Amaro e São José. E o tigre em Florianópolis. A Bernúncia ou bernunça também aparece nestas apresentações.
No mundo simbólico que envolve o boi, cada personagem é um símbolo e tem a sua representação social. Nesta versão, coletada por Pisani (2003), o boi morre e é ressuscitado por um feiticeiro ou benzedor (a crença popular que estas pessoas se utilizam da reza e ervas para curar). O boi é um animal mitificado porque ele é necessário à subsistência no meio rural, representa a força e o auxílio na semeadura, colheita, produção e transporte. Quando o boi morre, quebra-se com o ciclo natural, a dependência biológica da vida humana. A ressurreição do boi é a representação do eterno retorno deste ciclo natural.
Hoje, as apresentações dos folguedos de boi acontecem em eventos como o carnaval e datas comemorativos como o dia do folclore, em agosto. Além dos integrantes do grupo que vestem fantasias e dão vida a diversos personagens, a cantoria é acompanhada por três músicos com pandeiro, violão, gaita, incluindo um cantor que narra a história.
O folclorista Ricardo Azevedo recupera as representações do Bumba-meu-boi, originada no Nordeste e disseminada pelo país, em torno da vida, morte e ressurreição do boi. Geralmente, segundo Azevedo (2003), esses folguedos acontecem entre os festejos de Natal e o Dia de Reis, 6 de janeiro. Os personagens são humanos, animais e fantásticos. O pesquisador ressalta que o Boi-de-mamão, do litoral de SC, é uma versão do Bumba-meu-boi.
No Pará e no Amazonas, existe outra variação denominada Boi-bumbá, festejada em junho. Na cidade de Parintins, no Amazonas, o Boi-Bumbá atrai atualmente milhares de pessoas. Ao contrário de outras regiões, onde existem vários bois e a brincadeira não tem o caráter de competição, dois bois disputam num festival e vence o melhor. O espetáculo acontece num bumbódromo, com capacidade para 35 mil espectadores e 10 mil brincantes.
A festa do Bumba-Meu-Boi é um folguedo brasileiro, típico da região nordeste do Brasil. Teve início no século XVIII, misturando aspectos das culturas portuguesa, negra e indígena. Os brancos trouxeram o enredo da festa; os negros, escravos, acrescentaram o ritmo e os tambores; os índios, antigos habitantes, emprestaram suas danças.
A lenda conta a história de um rico fazendeiro que tem um boi. Esse boi e é roubado por Pai Chico (negro trabalhador da fazenda) para satisfazer o desejo de sua mulher grávida de comer a língua do boi. Os vaqueiros e os índios procurarem o boi e o encontram doente, e os pajés são chamados para curá-lo. O boi é curado, e o fazendeiro perdoa Pai Chico e Catirina, encerrando a representação. (Bumba-Meu-Boi, 2011).
Ao redor do boi aparecem vários personagens típicos: vigário, cobrador de impostos, escravo fugitivo, boiadeiro, capitão do mato e o valentão. Durante a dança, o boi é morto, sendo logo em seguida ressuscitado por um puxão no rabo e volta a dançar. Na dança o boi abaixa e levanta a cabeça, dançando de forma desorientada, sobre os outros personagens. Com significado de união entre as três etnias que se apresentam como um elo entre o sagrado e o profano, entre santos e devotos, congregando toda a população.
O folclorista Câmara Cascudo estudou o Bumba-meu-boi, conhecido também como Boi Kalemba, Boi-Bumbá ou apenas Boi, identificando-o como um auto popular do norte do Brasil em épocas de reisadas3.
Segundo Cascudo, “O Bumba-meu-boi é denominação mais conhecida e velha. Diz-se no Rio Grande do Norte também Boi Kalemba e em todo nordeste, Boi. [...] uma possível reminiscência das Tourinhas de Portugal” (CASCUDO, 1984, p.422) contado pelo folclorista:
As tourinhas portuguesas eram touradas de novilhas ou de fingimento. Nas primeiras toureavam animais mansos, muito maiores exigências de coragem ágil. As de fingimentos, muito populares, constavam de um arcabouço, de canastras de vime cobertas de pano, com a cabeçorra do boi, ameaçante. Fingindo-o atacar, os rapazes eram perseguidos, com rumor de alegria e algazarra coletiva. Pertencem ao minho especialmente, uma das fontes altas de emigração para o Brasil. Provinha a Tourinha, possivelmente, de um perdido entremez vilarengo, resistindo nas zonas da pastorícia. Não havia cantiga nem dança. (CASCUDO, 1984, p.422)

Cascudo (1984) analisa que no Brasil houve uma alusão à Tourinha de Portugal, sendo composto aqui, com a dança e a dramatização aparecendo os vaqueiros negros e caboclos em cenas humorísticas de crítica social. O folclorista então passa a fazer referência a representações de bois como o Boeuf-gras4 de Paris coberto de flores, bem como o “Monólogo do Vaqueiro” de Gil Vicente, em 1502, escrito por ocasião ao nascimento do príncipe D. João. Associa-o ao boi de palha, na Boêmia, Turgovia, Suábia, Baviera, Dijon, Pont-à-Mousson, Luneville, Turíngia, Hungria e Zurich que utilizam o boi como representação da força criadora da semente. Outra relação que se estabelece é com o Boi Geroa5 dos africanos (Mossâmedes, Angola e Va-Nianecas) que pode ser análoga ao Bumba-meu-boi das festas de Natal e Reis Magos. O Boi de São Marcos, em Portugal, também desfila sobre flores dentro da igreja ou em procissão ao Corpus Christi, sendo a materialização popular do espírito da força obscura e fecunda da germinação.
Há também o boi que aparece no presépio de Jesus Cristo da tradição católica. A presença obrigatória do boi e do burro tem finalidades simbólicas. “Corresponde a uma interpretação patrística de duas profecias existentes na Bíblia: a de Isaias 1,3 ‘conhece o boi o seu patrão e o burro o estábulo de seu dono’ e a de Habacuc 3,2, ‘em meio a dois animais te manifestarás’”(SANTOS, 2011). Sendo assim símbolos de reconhecimento do Messias (Jesus), Santos também diz que o boi, é o povo de Israel, que levou o jugo da lei. E o burro é o povo gentio, carregado de pecados e de idolatrias. Do povo de Israel e do povo Gentio nasceu a Igreja reconhecendo Jesus como seu Senhor.
Cascudo registra uma versão do Bumba-meu-boi, escrita em 1840, pelo frei Miguel do Sacramento Lopes Gama:

Um negro metido debaixo de uma baeta é o boi; um capadócio enfiado pelo fundo dum panacu velho, chama-se o cavalo-marinho; outro, alapardado, sob lençóis, denomina-se burrinha; um menino com duas saias, uma da cintura para baixo, outra da cintura para cima, terminado para a cabeça com uma urupema, é o que se chama a caipora; há além disto outro capadócio que se chama o pai Mateus. O sujeito do cavalo-marinho é o senhor do boi, da burrinha, da caipora e do Mateus. Todo o divertimento cifra-se em o dono de toda esta súcia fazer dançar ao som de violas, pandeiros e de uma infernal berraria o tal bêbado Mateus, a burrinha, a caipora e o boi, que com eleito é animal muito ligeiro, trêfego e bailarino. Além disso o boi morre sempre, sem que nem ara que, e ressuscita por virtude de um clister, que pespega o Mateus, cousa mui agradável e divertida para os judiciosos espectadores. (CASCUDO, 1984, p.427)
E assim com o tempo e região, personagens são incluídos ou retirados para atender a cultura de cada lugar e a lenda vai adquirindo nomes, ritmos, formas de apresentação diferentes. Cascudo (1978, p. 436) refere-se a estas variações, como no Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí é Chamado de Bumba-meu-boi, no Pará e amazonas é Boi-bumbá, em Pernambuco é Boi-calemba ou Bumbá e em Santa Catarina é Boi-de-mamão.
Cascudo apresenta o Boi-de-Mamão de Santa Catarina relatando alguns itens que compõe sua encenação: “[...] é laçado pelo cavalo-marinho e não há a cena da morte, nem a parte viva dos vaqueiros, improvisando todo o tempo.” (CASCUDO, 1984, p.431) Em seguida ele comenta sobre a presença de damas e cavalheiros que rodam em torno do pau de fita, “[...] muito comum nas danças de roda, para adultos, na Europa central e do norte. Esse ‘pau de fita’ é um elemento tipicamente germânico dentro do brasileiríssimo Boi-de-mamão.” (CASCUDO, 1984, p.431)
Por muito tempo o Boi-de-Mamão fez parte de uma tradição das ruas da cidade de Joinville com o objetivo de proporcionar lazer aos moradores. Hoje, em Joinville o Boi-de-Mamão é desenvolvido em projetos culturais e apresentado em espaços como ancionatos, escolas, praças... Grupos populares mantêm essa tradição como: o Grupo Folclórico Entre Parentes6, nas suas encenações aparecem os personagens Boi, Cavalo-Marinho, Tirolesa, Vovô, Onça, Pau-de-Fita e Barão (CIDADE CULTURAL, 2007); e o Grupo Folclórico Joinvilense, o qual apresenta os personagens cavalo marinho, boi, Tirolesa, Vovô, Onça e Barão, com roda para mostrar as brincadeiras, danças e cantorias do povo português (PORTAL JOINVILLE, 2011). O caminhão do Projeto Conexão Cultural7 representa a peça “O Sumiço do Boi-de-mamão” (PORTAL JOINVILLE, 2011). Mas essa tradição é também recuperada e reavivada em projetos pedagógicos nas escolas, como por exemplo, na Escola Municipal Hermann Muller8, que desenvolveu o projeto “Boi-de-Mamão: aprendendo a preservar com alegria!” Neste projeto o Grupo Folclórico Entre Parentes desenvolveu oficinas para os alunos da escola que puderam aprender, vivenciar e produzir o Boi-de-Mamão com as peculiaridades da comunidade escolar (ESCOLA HERMANN MULLER, 2009).
Entre tantos símbolos e significados, a lenda do boi, em suas variações de nomes, ritmos, ritos, personagens e enredos, apresenta, segundo os folcloristas e estudiosos, elementos míticos de representação econômica por intermédio de sátira do cotidiano rural do trabalho da roça e da pecuária. As variações da lenda do boi cotejadas e analisadas desvelam a presença de questões sociais, o dualismo entre o dono branco e os negros escravos, índios, caboclos e atualmente de povo ligado às raízes rurais. O ritual ocorre em festejos religiosos de tradição católica, festivais públicos e em projetos culturais que visam preservar esta tradição que percorre o Brasil.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Ricardo. Meu Livro de Folclore. São Paulo: Ática, 2002.

BÍBLIA SAGRADA. Trad. Monges de Maredsous. 120. ed. São Paulo: AM edições, 1998. p.1341 Sobre a santa ceia em Mc 14,12-25.

BUMBA-MEU-BOI. Disponível em: . Acesso em: 26 jul. 2011.

CARNEIRO, Graça. Boi-de-Mamão. Grupo Folclórico Infanto-Juvenil do Porto da Lagoa. Florianópolis, Santa Catarina: Papa-livro, 2001.

CASCUDO, Luis da Câmara. Literatura Oral no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro:J. Olympio; Brasília: INL, 1978.

CASCUDO, Luis da Câmara. Literatura Oral no Brasil. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Universidade de São Paulo, 1984.

CIDADE CULTURAL. Apresentação de Boi-de-mamão, em Joinville. Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2011.

ESCOLA HERMANN MULLER. Boi-de-mamão: Aprendendo a preservar com alegria! Disponível em: <http://escolahermannmuller.blogspot.com/2009/11/boi-de-mamaoaprendendo-preservar-com.html>. Acesso em: 27 jul. 2011.

NASCIMENTO, Luiz Diomedes do. Luiz Diomedes do Nascimento: entrevista [21 fev. 2011]. Entrevistadora: Eliana Ap. de Quadra Corrêa. Migrante de São Francisco do Sul, trabalha na Biblioteca Pública Municipal Prefeito Rolf Colin de Joinville (SC).

PISANI, Osmar. Variações lírico-pictóricas sobre o Boi-de-mamão. Florianópolis: Fundação Aníbal Nunes Pires, 2003.

PORTAL JOINVILLE. Projeto Conexão cultural chega em Joinville. Disponível em: <http://www.portaljoinville.com.br> Acesso em: 27 jul. 2011.

PORTAL JOINVILLE. Sábado na estação foi um sucesso. Disponível em: <http://www.portaljoinville.com.br>. Acesso em: 27 jul. 2011.

SANTOS, Fernando S. dos. Um boi e um burro no presépio, por quê? Disponível em: <www.catedralsaomiguel.org.br> Acesso em: 27 jul. 2011.


1 Os folguedos são festas populares cuja principal característica é a presença de música, dança e representação teatral. Grande parte dos folguedos possui origem religiosa e raízes culturais dos povos que formaram nossa cultura (africanos, portugueses, indígenas). Muitos folguedos foram, com o passar dos anos, incorporando mudanças culturais e adicionando, às festas, novas coreografias e vestimentas. Embora ocorram em quase todo território brasileiro, é no Nordeste que se fazem mais presentes.
2 O homem do campo, faz uma pausa em seus trabalhos e se volta para Deus afim de pedir sua benção para a colheita . Usa para tal os espíritos superiores como Santo Antônio, São João e São Pedro. Santo Antônio é o Santo mais popular do Brasil e, também, é conhecido por ser o Padroeiro dos pobres, Santo casamenteiro, sempre sendo invocado para se achar objetos perdidos é comemorado no dia 13 de junho. São João é comemorado no dia 24 de junho com uma fogueira para representar o seu nascimento. E no dia 29 de junho é comemorado o dia de São Pedro o guardião das portas do céu é também considerado o protetor das viúvas e dos pescadores. Como o dia 29 também marca o encerramento das comemorações juninas.
3 Reisado é uma dança popular profano-religiosa, de origem portuguesa, com que se festeja a véspera e o  Dia de Reis ou encenação de natal. No período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, um grupo formado por músicos, cantores e dançarinos vão de porta em porta anunciando a chegada do Messias e fazendo louvações aos donos das casas por onde passam e dançam. Reisado também é muito conhecido como Folia de Reis.
4 Boeuf-gras em Paris era um cortejo em forma de festa como objetivo de sátira social. Visto por Cascudo como um ancestral do Bumba-meu-boi datado entre 1800 a 1900.
5 Durante a pequena seca de julho e a grande seca de agosto, saem em cortejo pelo país recebendo presentes em um ritual de dança e uma música curta e repetitiva, mas o boi não dança.
6 O grupo folclórico “Entre Parentes” foi criado em 20 de dezembro de 1997, por quatro irmãos da família Quintino, que tinham a vontade de fazer renascer o folclore do Boi-de-Mamão. Hoje, o grupo contabiliza 20 integrantes. Na encenação aparecem os personagens como Boi, Cavalo-Marinho, Tirolesa, Vovô, Onça, Pau-de-Fita e Barão. O grupo “Entre Parentes” está há 10 anos difundido a cultura regional e tem sua sede em Joinville. Há dois anos, com o apoio da Fundação Cultural de Joinville, o grupo alegra muitas festas e entidades sociais, trabalhando também com ensinamentos em escolas da cidade, com o intuito de apresentar a cultura do Boi-de-Mamão.
7 O caminhão visita várias cidades para alegrar toda família. O caminhão do projeto Conexão Cultural Tigre/ICRH estaciona em Praças com muitas brincadeiras, apresentações teatrais e cinema. Em sua 3ª edição, o projeto já acumula mais de 200 apresentações culturais e intervenções artísticas em todo país.
8 A Escola Municipal Hermann Müller localiza-se na área rural do município de Joinville, do estado de Santa Catarina. Sua missão é promover projetos e vivências através de uma aprendizagem voltada a ecologia, cultura e afetividade.




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 POESIA COMO UM NOVO OLHAR

TEXTO PUBLICADO NO JORNAL NOTÍCIAS DO DIA EM 2011
 POR ELIANA AP. DE QUADRA CORRÊA

Esta semana pude participar e me deliciar com uma banca de mestrado da Univille que falava sobre as manifestações poéticas do período de 1980 a 1990 (re) lembradas por meio de poetas joinvilenses que as fecudaram e as vivenciaram. O qual o objetivo do estudo foi resgatar a memória poética local deste período. Década de 80 a 90 foi um marco da poesia numa cidade envolta por fábricas, e uma sede pelo trabalho. E abrir novos olhares para a cultura e a democratização dela é o que os movimentos poéticos tinham em comum neste período. Democratizar a leitura dos poemas e enviar mensagens de sentimentos, de valorização da nossa terra, de espírito de liberdade, de revelar a poesia a sociedade joinvillense.

E alguns movimentos e poetas participaram desta década os quais foram citados neste estudo e que me fizeram voltar no tempo. Com o varal literário na praça da Biblioteca Pública organizado por Alcides Buss. Com a poesia carimbada de Caco de Oliveira. Com a poesia em trânsito e o pão com poesia pensada por Dúnia de Freitas. Com a poesia sensível às questões da cidade e um olhar preocupado com a memória da cidade de Mila Ramos. E com o espaço do eu nos poemas de Rita de Cássia Alves com questões da alma e de sentimentos de catarse e seus escritos divulgados também na rádio.Todos sempre ativos, participando de grupos como Saragata e Viva a poesia. Este espírito poético de disseminar a poesia com propostas independentes de baixo custo, fez da década de 80 um período de grande produção poética e de busca da democratização cultural e também político e social.

E estudar estes momentos e movimentos é resgatar uma cultura muito importante para a formação do conhecimento de uma sociedade, que é a chamada cultura imaterial. É a voz do passado pulsando e revelando os anseios sociais e para compreender posturas e culturas atuais. E é na literatura que o plano simbólico germina com mais força originando questões existências humanas. E é ela que auxilia na manifestação popular e de disseminar os pensamentos e aspectos culturais de uma época. Estamos passando hoje por um período de resgate deste período da década de 80 a 90 com a política da “cidade dos livros”, projeto de incentivo a leitura e de valorização da literatura. E que venham os escritores e poetas locais com ideias inovadoras para que democratizem o livro, a leitura e a literatura novamente em nossa cidade. Assim esperamos.



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A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS



Por Eliana Ap. de Quadra Corrêa

Acredita-se que o ato de ouvir histórias é um momento mágico, que pode vir a influir no gosto de prazer de ler. Nos últimos anos, a arte de contar histórias vem sendo retomada não apenas por terapeutas e educadores, mas por pessoas de todas as formações, de várias camadas da sociedade, que se reúnem para partilhar sabedoria, afeto e energia através das narrativas. Para fazê-lo, não há regras: o melhor é usar o coração e a intuição, além da experiência que só se adquire através do tempo. Por isso o envolvimento direto na criação da história faz dela uma experiência que acontece no próprio momento em que é contada. Uma história não é uma explicação. Ela é vivida entre quem conta e quem ouve, seu eco ressoa muito além de seu conteúdo. Em outras palavras, a história genuína se manifesta no memento em que é ouvida, quando é arrancado de sua autoconsciência com a mente pensante mantida em transe pela narrativa que se desenrola. A narração de histórias é tão potente porque é uma experiência física.

Agora se faz necessário uma atenção especial ao trabalho de contação de histórias. Principalmente na escolha de pessoas que farão estes momentos encantadores. Precisam ser pessoas leitoras, que amam as histórias e que sejam sensíveis à elas. É preciso também dar importância ao espaço e independentemente do local, os ouvintes devem estar bem acomodados, em círculo ou colunas, sentados no chão, em tapetes ou almofadas, livres de outros barulhos, em ambiente com conforto térmico, em horário adequado e outros cuidados desse tipo. O Momento de leitura e contação deve ser atrativo para a criança. O contato com o livro e a leitura, sentando junto, acompanhando as reações, estabelecendo laços de intimidade, que muitas vezes duram pouco, mas são intensos com o contador.

Há uma polêmica que acompanha a literatura sobre as vantagens e desvantagens entre as histórias lidas e as contadas. Mas que se observa é que as duas têm seu valor. O que o contador, professor ou a pessoa responsável pelo incentivo à leitura tem que ter é a sensibilidade de perceber que tem história para ser contada, outras para serem decoradas, e outras que ficam mais bem lidas sem mostrar gravuras, mas tem outras histórias que precisam mostrar as imagens, ou usar sons, músicas, objetos, fantoches, personagens... enfim cada história tem o seu jeito especial para ser deliciada. Para contar histórias também é importante ter consciência sobre alguns pontos: Analisar a estrutura do texto se é linear ou não. A estética e as imagens se são necessárias ou não durante a contação e a repetição para memorizá-lo de preferência em voz alta e em lugar tranquilo em que o contador se sinta a vontade para treinar.

O olhar nos olhos, a naturalidade, o ritmo, a entonação na voz, a expressão, no poder de sedução e improvisação são aspectos necessários para que o contador tenha sucesso com suas histórias, assim também com a escolha das histórias conforme faixa etária. Não que isso seja uma regra que deva ser levada a risca, pois há histórias que encantam a todas as idades, principalmente quando ela é bem contada.
Contar histórias é uma arte popular. E que o ato de contar histórias possa se inserir numa proposta terapêutica ou num projeto pedagógico, não se pode agir de forma mecânica, apenas para cumprir um dever ou para ensinar o que quer que seja, de regras gramaticais a valores doutrinários. As histórias devem ser contadas por e com prazer. Se não, nem vale a pena começar. Contar histórias não é um ato apenas intelectual, mas espiritual e afetivo. Contar histórias é aumentar o círculo. Contar histórias pressupõe antes de tudo a vontade de falar do que se sabe, de doar sabedoria e conhecimento, de passar adiante aquilo que se aprendeu.

(Eliana Ap. de Quadra Corrêa)

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APRENDER COM AMOR

Texto publicado no jornal A Notícia no dia 16/02/2010 por Eliana Ap. de Quadra Corrêa

Há muito se fala na pedagogia do amor, mas pouco se faz na prática, pois é um desafio para a escola. Conforme Ramos uma criança quanto mais sente que é amada, mais aprende, mais fica aberta a novas descobertas. Pois para ele a razão de ser da educação escolar é o desenvolvimento do educando como pessoa humana. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB - 9.394, de 1996 vem ressaltar o respeito à liberdade e o apreço à tolerância que são princípios básicos de liberdade e solidariedade humana, necessário para o pleno desenvolvimento do educando. E esta educação fundamentada no amor é possível com o cumprimento de cada instância. A escolar, a familiar e a comunidade, pois todos trabalhando com a mesma fundamentação é possível o sucesso da aprendizagem e assim colocando em prática a lei.

Segundo Chalita educar é um ato de cumplicidade, de troca, de amor. É nessa troca, na amizade, no poder contar com o outro. Nesta relação entre professor e aluno que a educação pode ter um nível melhor. Mas para isso o professor precisa quebrar barreiras como diz Chalita, e ter coragem e afeto. Pois quem educa com afeto e coragem, está sempre em contínuo aprendizado e isto é um grande desafio. Vê-se também que o mundo está muito voltado a competitividade e a escola acaba sendo responsável por formar pessoas para este universo cheio de responsabilidades. Mais uma vez o professor se torna um agente muito importante neste processo, de orientar para esta diversidade em que se encontra. Assim, é preciso que os professores tenham uma formação apropriada e estejam abertos a mudanças. Para isso Chalita complementa que o professor precisa usar a pedagogia do amor.

O professor tem papel fundamental atualmente, pois como diz Santos “o novo profissional da educação é também um profissional que domina a arte de reencantar, motivar e de despertar nas pessoas a capacidade de enganjar-se e mudar”. Pois hoje a motivação se tornou a chave mestre para que os educandos aprendam. Por que a motivação está ligada com a necessidade do indivíduo e isso auxilia e muito no querer aprender. Mas para tanto, o professor também precisa estar motivado, seu desempenho é tão importante, quanto ao dos alunos, por que um professor motivado, que goste do seu trabalho, do ambiente onde trabalha, que percebe o sentido do educar, que faz com satisfação, saberá motivar seus aprendentes com facilidade e competência. E para isso muitas coisas precisam ser repensadas para se ter profissionais motivadores, como: um salário justo, melhores condições de trabalho, valorização do magistério, diminuição de carga de trabalho, tempo para planejar, trocar, reciclar, enfim de se motivar. Gadotti diz que “Parece-me urgente que o professor busque mais sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos.

 Ele deixará de ser um simples professor para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem”. Pois ensinar a pensar, a saber comunicar-se, a saber pesquisar, a ter raciocínio lógico, elaborar sínteses e teorias, a ser aprendiz autônomo, ser sujeito da sua própria formação, só pode acontecer se este aprendente ter um professor mediador do conhecimento, para que ele possa construir seu conhecimento a partir do que faz. Para reverter este processo precisa-se que os professores trabalhem a criticidade em sala de aula. Que deixem de só executar o currículo oficial e que assumam uma postura do diálogo, do uso do cotidiano, da prática social. Com isso acredita-se que a educação anda a passos lentos. Que precisa de mudanças para uma real aprendizagem. A escola grita por novas posturas. A qual a palavra chave é o amor. O educar com diálogo, com alegria, com prazer, com querer, por ter sede de saber, pela motivação. E isso só acontecerá partindo dos professores que precisam repensar sua prática e o que realmente querem para a sua profissão. Serem apenas operadores de máquinas ou mediadores do conhecimento?

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CONTAR HISTÓRIAS

TEXTO PUBLICADO NO JORNAL A NOTÍCIA NO DIA 28/12/2009
POR ELIANA APARECIDA DE QUADRA CORRÊA

Acredita-se que o ato de ouvir histórias é um momento mágico, que pode vir a influir no gosto de prazer de ler. Nos últimos anos, a arte de contar histórias vem sendo retomada não apenas por terapeutas e educadores, mas por pessoas de todas as formações, de várias camadas da sociedade, que se reúnem para partilhar sabedoria, afeto e energia através das narrativas. Para fazê-lo, não há regras: o melhor é usar o coração e a intuição, além da experiência que só se adquire através do tempo. Por isso o envolvimento direto na criação da história faz dela uma experiência que acontece no próprio momento em que é contada. Uma história não é uma explicação. Ela é vivida entre quem conta e quem ouve, seu eco ressoa muito além de seu conteúdo. Em outras palavras, a história genuína se manifesta no memento em que é ouvida, quando é arrancado de sua autoconsciência com a mente pensante mantida em transe pela narrativa que se desenrola. A narração de histórias é tão potente porque é uma experiência física.

Agora se faz necessário uma atenção especial ao trabalho de contação de histórias. Principalmente na escolha de pessoas que farão estes momentos encantadores. Precisam ser pessoas leitoras, que amam as histórias e que sejam sensíveis à elas. É preciso também dar importância ao espaço e independentemente do local, os ouvintes devem estar bem acomodados, em círculo ou colunas, sentados no chão, em tapetes ou almofadas, livres de outros barulhos, em ambiente com conforto térmico, em horário adequado e outros cuidados desse tipo. O Momento de leitura e contação deve ser atrativo para a criança. O contato com o livro e a leitura, sentando junto, acompanhando as reações, estabelecendo laços de intimidade, que muitas vezes duram pouco, mas são intensos com o contador.

Há uma polêmica que acompanha a literatura sobre as vantagens e desvantagens entre as histórias lidas e as contadas. Mas que se observa é que as duas têm seu valor. O que o contador, professor ou a pessoa responsável pelo incentivo à leitura tem que ter é a sensibilidade de perceber que tem história para ser contada, outras para serem decoradas, e outras que ficam mais bem lidas sem mostrar gravuras, mas tem outras histórias que precisam mostrar as imagens, ou usar sons, músicas, objetos, fantoches, personagens... enfim cada história tem o seu jeito especial para ser deliciada. Para contar histórias também é importante ter consciência sobre alguns pontos: Analisar a estrutura do texto se é linear ou não. A estética e as imagens se são necessárias ou não durante a contação e a repetição para memorizá-lo de preferência em voz alta e em lugar tranquilo em que o contador se sinta a vontade para treinar.

O olhar nos olhos, a naturalidade, o ritmo, a entonação na voz, a expressão, no poder de sedução e improvisação são aspectos necessários para que o contador tenha sucesso com suas histórias, assim também com a escolha das histórias conforme faixa etária. Não que isso seja uma regra que deva ser levada a risca, pois há histórias que encantam a todas as idades, principalmente quando ela é bem contada.
Contar histórias é uma arte popular. E que o ato de contar histórias possa se inserir numa proposta terapêutica ou num projeto pedagógico, não se pode agir de forma mecânica, apenas para cumprir um dever ou para ensinar o que quer que seja, de regras gramaticais a valores doutrinários. As histórias devem ser contadas por e com prazer. Se não, nem vale a pena começar. Contar histórias não é um ato apenas intelectual, mas espiritual e afetivo. Contar histórias é aumentar o círculo. Contar histórias pressupõe antes de tudo a vontade de falar do que se sabe, de doar sabedoria e conhecimento, de passar adiante aquilo que se aprendeu.

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GARRAFA DA LEITURA

TEXTO PUBLICADO NO JORNAL A NOTÍCIA NO DIA 6/09/2009 E NO JORNAL NOTÍCIAS DO DIA NO DIA 17/09/2009 POR ELIANA APARECIDA DE QUADRA CORRÊA

Esta semana a Biblioteca Pública Municipal Pref. Rolf Colin iniciou o seu projeto “Garrafa da Leitura”, no setor infanto-juvenil com a presença do escritor Jorge Luiz Hoffmann para apresentar o seu livro “Ovo Mágico”. E com a presença de alunos de duas escolas: Escola Municipal Estrada Palmeiras e Escola Municipal 7 de Setembro e as professoras Judite e Tania e é claro apoiado pela coordenadora de bibliotecas Alcione Pauli e pela coordenadora do setor infanto-juvenil Eliana Ap. de Quadra Corrêa.
A “Garrafa da Leitura”, que foi ilustrada pelo Humberto Soares, ilustrador do livro “Ovo Mágico” que tem como objetivo promover um incentivo a leitura e ao gosto pela literatura joinvillense. Com este espaço acredita-se que com a divulgação feita pela Biblioteca Pública e com parcerias com as escolas públicas e particulares, é possível ter um público maior de leitores das boas obras de poetas e escritores de nossa cidade, como também da valorização de ilustradores locais. A ideia de manter contato entre escritor e leitor é muito interessante e gratificante, pois esta relação traz além da afetividade, a valorização do trabalho do escritor, poeta, ilustrador como também ver o livro como arte e cultura. 

A “garrafa da leitura” mexe com o imaginário, com o mundo do faz-de-conta, de levar mensagens. E esta garrafa é de levar os livros de escritores locais para as escolas ter a oportunidade de conhecer, apreciar e com ele criar e recriar. E depois apresentar para o escritor suas descobertas e criações. É o momento de troca, de alimento para a alma e conhecimentos. Pensa-se que projetos como este, são necessários nas Bibliotecas Públicas o de incentivar a leitura de livros publicados e não deixá-los a mercê de estantes e sim a sua circulação. E a biblioteca tem esta função de apresentar ao leitor estes livros, divulgá-los, fazer chegar a sua função social. É bom abrir um espaço a questão também dos escritores de também utilizar espaços públicos como a biblioteca para divulgar seus trabalhos e incentivar a leitura e ao gosto da literatura.
Esta é uma iniciativa importante para a comunidade em geral, pois a partir destes espaços acabará multiplicando-se leitores. Porque esta leitura passará inconscientemente para os filhos, para os netos, para outras pessoas afins. Por isso que a Biblioteca Pública deve ser dinâmica e proporcionar as pessoas, a continuação da leitura. Ser ambiente de referência, de leitura, de encontro entre pessoas que queiram pesquisar, conhecer, apresentar seus trabalhos culturais... fazer deste espaço um lugar mágico e valorizado culturalmente.

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PATRIMÔNIO CULTURAL

TEXTO PUBLICADO NO JORNAL NOTÍCIAS DO DIA NO DIA 21/10/2009
POR ELIANA APARECIDA DE QUADRA CORRÊA

O que é patrimônio cultural? Bem, falar de “patrimônio” e ainda mais “cultural” não nos parece que é um assunto muito abordado e comentado em nossa sociedade. Mas inconscientemente ele é e está em nossa volta e faz parte da nossa história e convívio social. Ao analisar patrimônio cultural conforme o senso comum diria que são bens arquitetônicos preservados ou tombados a interdição de uso, monumentos em praças para lembrar um momento histórico... Estes bens podem ser vistos também como patrimônios nacionais ou como sociedades humanas, envolvendo a atividade de segmento de mercado como divulgação através do turismo. Agora, estudar patrimônio cultural é algo novo em nível acadêmico. Alguns cursos o fazem, mas como há muitas possibilidades de estudo, ainda é na prática um universo de descobertas.

Nestas descobertas acadêmicas será primordial observar e aprofundar em estudo e pesquisa os valores que o patrimônio cultural foca, como o valor nacional que reforçará a identidade do nosso povo. O valor capital que envolverá o turismo com mais base, mais conteúdo. E valor artístico que infelizmente é colocado em último lugar de importância em nossa sociedade, que fará a parte do apoio a cultura. Portanto, é necessário pensar e valorizar as culturas híbridas – que seria o cruzamento de estudo e valorização das etnias, linguagens e formas artísticas. E isso se dá começando com um olhar de apreciação da cultura local, do jovem artista, do artesão, do indígena, das pequenas e médias instituições culturais, das trocas e diversidades. Pois só assim é que poderemos construir uma sociedade sem discriminação, que seja democrática e que dê valor aos seus bens patrimoniais.

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A ESCOLA PRECISA MUDAR

PUBLICADO NO JORNAL A NOTÍCIA NO DIA 14/01/2010
POR ELIANA APARECIDA DE QUADRA CORRÊA

Fala-se muito em mudanças, que a escola precisa mudar, que a prática precisa mudar, o método precisa mudar, que há baixo rendimento escolar, que os alunos não aprendem e estão desmotivados. Mas o que se vê são anos, décadas e séculos de uma educação que ficou presa ao tempo, e essa evolução caminha de forma lenta, para uma sociedade tecnológica de rápido acesso a informação. Conforme Ramos a escola durante séculos trabalhou com a construção do saber de forma dogmática com aquisição do conhecimento, não facilitando o desenvolvimento de habilidades criativas. Mas muitos estudiosos questionaram esta concepção verificando que tudo tem movimento, dinâmica e que precisa de mudanças contínuas.

Atualmente com a sociedade capitalista a educação deve caminhar para formar pessoas que se comunicam, trabalham em equipe, que se adaptam facilmente a novas situações, que estejam em permanente estudo, que sejam autônomos. E isso implica em um novo profissional na área de educação, com olhar de desafio e práticas inovadoras. Este professor de hoje precisa ter o perfil de trabalho que explore os conhecimentos prévios e saberes e competências e usar os meios tecnológicos como suporte de motivação. Ele precisa ser comprometido e assumir um projeto de vida e escolar procurando sempre renovar sua prática e criar meios para que seus aprendentes sejam questionadores e também queriam fazer parte de mudanças.

Não se pode esquecer que na escola não é só o professor responsável pela aprendizagem, como diz Perrenoud “Os professores não são os únicos autores da educação chamados a construir novas competências. O pessoal administrativo também deve aprender a delegar, pedir contas, conduzir, suscitar e negociar projetos...” enfim participar desta prática e auxiliar principalmente com a motivação.
Também é necessário repensar no mobiliário, nos meios tecnológicos, em recurso, na higiene, arejado, na organização dos espaços de conhecimentos. Pois um espaço bem projetado para o conhecimento é também muito importante para auxiliar na construção de saberes. Há também a questão de ser educador ou ser professor. Na postura de educador tem-se a vocação, o que gosta do que faz, que é movido por paixões, um facilitador do conhecimento. Já na postura de professor tem-se a profissão, o funcionário dominado pelo estado, sem perspectivas e mudanças. A educação precisa mais da postura de educadores de uma educação holística de estímulo ao desenvolvimento integral do ser humano.

E é claro que a escola não anda sozinha, precisa da família, de uma família saudável, de caráter e de personalidade. Que tenha amor, ética, e consciência de sua função no crescimento de seus filhos.
Um outro desafio é o ensino da leitura e da escrita que se faz necessário para contribuir para a formação de pessoas autônomas na aprendizagem durante toda a sua vida, pois aprender ultrapassa os muros da escola, ela caminha continuamente com o indivíduo letrado. E para isso a escola precisa segundo Ramos ensinar aos alunos a aprender a aprender se utilizando de alguns procedimentos, como: conhecimentos prévios, aprender a organizar e relacionar informações, a formular perguntas que queiram aprender, aprender como, onde e de que forma encontrar informações. Isso torna a leitura, a escrita e o conhecimento algo encantador, que faça sentido e que torne a escola um espaço atraente. Por isso a escola precisa mudar, mudar para uma sociedade mais justa, feliz, comprometida em conhecer e melhorar seu ambiente familiar, escolar e de trabalho. Para que se tenham pessoas autônomas em aprender, que sejam críticas, que façam valer seus direitos e cumpram com seus deveres que sejam éticas e humanas. Isso tudo parece utópico, mas não é impossível, é só acreditar e colocar em prática.

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TEMPO BOM PARA LIVROS E OS PAIS E A LEITURA

TEXTO PUBLICADO NO CADERNO IDEIAS DO JORNAL A NOTÍCIAS
 NO DIA 23/08/2009 E NO JORNAL NOTÍCIAS DO DIA NO DIA 28/08/2009
POR ELIANA APARECIDA DE QUADRA CORRÊA

Aprender é um processo no qual o lúdico é essencial. A fantasia, o jogo, a brincadeira e a afetividade proporcionam estímulos para o desenvolvimento fundamental. No caso de bebês e crianças pequenas, a literatura serve de permanente espaço de liberdade. Acredita-se que o contato com os livros deve ser iniciado o mais cedo possível, não só pelo manuseio (livros ao alcance da criança), como pela história contada, pelas conversas (diálogo mãe-pai-filho) e pelos jogos rítmicos (cantigas de ninar e de roda; jogos-contagem, como: uma, duas angolinhas, ou cadê o toucinho daqui, ...

Os jogos verbais como Dedo Mindinho, Domingo pede Cachimbo, Cantigas de ninar são muito importantes para os pequenos. A criança, embora não compreenda o que seus pais cantam, no inconsciente percebe o som das palavras e aquela rima lhe fala à imaginação. Nesta fase predomina a ação-imitação e o faz-de-conta. A criança brinca com a voz e ela entra no campo da linguagem, matéria e da literatura. Auxiliares do desenvolvimento pleno da criança são os manuseios de revistas, livros, papel colorido. A fase de picar papel deve ser estimulada com material disponível como revistas velhas, tesouras apropriadas com pontas arredondadas, formato de bichinhos, pintar álbuns com pincel e tinta, colagens, massinhas... sempre envolvendo o faz de conta infantil, a afetividade, o jogo e as cantigas nestas atividades. Outro meio de estimular a criança ao gosto pela literatura é organizar cantinhos estratégicos de leitura pela casa, como: deixar um livro na estante da sala, no quarto dentro do guarda-roupa da criança, ao lado da televisão... sempre em lugares que se possa alcançar e instigar a vontade de ver, tocar, querer ouvir a história pelos pais.

É importante também se criar o hábito e a cultura de que o livro é uma obra de arte, é um presente para se dar em aniversários, natal, dia das crianças, é algo especial, de valor pessoal e inestimável. E isso deve ser cultivado pelos pais e passado para os filhos. A partir desta visão, é que se terá o livro como algo comum e essencial nas famílias. Há também a importância de os pais levarem seus filhos a conhecer a biblioteca de sua cidade, ser um ambiente de visita, como um local interativo, para manusear e ler livros e também de ouvir histórias, conhecer escritores locais, de se envolver deste ambiente cultural. O uso de livros brinquedos e livros de imagens também são muito encantador para os pequenos pois, traz imagens e situações de brincadeiras com fantoches, dedoches, imagens escondidas para descobrir, dobraduras-surpresas, texturas, sons de animais... tudo que desperta na criança a vontade de conhecer, experimentar, tocar, imaginar, fazer de conta, brincar... Essa participação afetiva dos pais no estímulo ao gosto à leitura auxiliará a criança aos primeiros contatos com a leitura na escola, tornando essa prática mais rica e cotidiana, já que o atual aluno encontra-se no seu meio social o hábito do manuseio de livros. E isso implicará em um dos fatores para que uma criança se torne um futuro adulto leitor.

25/01/2010

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