Causo
curioso
Certo
dia, escutei um causo curioso, desses de não acreditar em tais maluquices.
Lembram do estimado fogão à lenha? Talvez as mulheres de hoje não o estimem
tanto assim, mas se conversarem com algumas vovós do tempo do fogão à lenha vão
ouvir muita rasgação de seda para este objeto:
- Faz uma comida saborosa, não tem igual.
Realmente
já experimentei muita comida de fogão à lenha e podem acreditar, não há sabor
igual. Imaginem uma comida caseira: arroz, feijão, galinha caipira e um belo
macarrão fumegando em contato com o calor da brasa por horas e horas, deixando
no ar o cheiro estonteante do almoço.
O
triste é como providenciar a quentura do fogão. Levantar cedo, cortar a lenha
com machado (é dureza, que nossos avós faziam com destreza) e com muita fumaça
na cozinha iniciava um foguinho tímido, que iam criando forma, força e
esquentando toda a casa, trazendo o calor necessário para sentir o aroma do
café quentinho em nossas narinas.
E
além, de trazer o calor para aliviar o frio, também trazia o calor humano que
geralmente formava em torno do fogão à lenha. A família, vizinhos e parentes se
reuniam diante do calor e dali muitos causos eram fomentados de boca em boca
perpetuando a memória, o saber fazer, um elo entre o passado, o presente e o futuro.
O
chá é outro artigo de consumo visto em cima do fogão à lenha. Mas não são chás
comprados nos mercados, todo cheio de pompas em caixinhas e embalagens práticas
e estilosas próprias para consumos diários, de uma vida corriqueira e sem tempo
de esperar o chá feito de ervas retiradas diretamente da natureza. Além de
serem preparados de forma artesanal, com a tranquilidade dos tempos do sítio,
têm a riqueza de nutrientes próprios para curas dos males físicos.
Pois
é, toda essa discussão (que aconteceu durante um rápido café para uns e chá
para outros, antes do trabalho) originou por causa do tal causo curioso
(lembram-se do início do texto? o tal causo?). Foi sobre um homem que resolveu
ter em casa (na cidade) um fogão à lenha. E todo pomposo tratou de construir a
chaminé bem alta para que a fumaça não atrapalhasse a boa convivência com os
vizinhos. Até aí, tudo tranquilo, normal para nossos ouvidos.
A
questão é com que material esta chaminé foi preparada. Pensando também no
charme e na beleza, o tal homem foi até uma loja de artigos de construção e com
todo cuidado na escolha, observando a largura, a altura que lhe convinha para
uma boa passagem de fumaça, comprou um cano de PVC.
Chegou
a casa, reuniu os instrumentos que usaria para colocar seu plano em prática. Preferiu
ele mesmo construir a engenhoca. E com cuidado e afinco instalou a mais nova
aquisição da família.
Feliz com sua obra pôs o fogão à lenha a
funcionar colocando pedaços de madeira e fogo para preparar um bom jantar. - O
primeiro de muitos. Pensou o homem. Logo, a vizinhança veio admirar o tal
invento. E comentários apreensivos, muitos murmúrios e suspense se sucederam
diante da obra. Será seguro o conjunto gastronômico?
Enquanto uma leve fumaça saia da chaminé
estava tudo certo. Até que o fogo pegou força e um calor subiu pelo cano
fazendo-o imediatamente derreter. E diante dos olhares curiosos, a chaminé de
PVC foi caindo e definhando ao toque do fogo.
Coisas
do mundo moderno, procurando facilidades e praticidades nas coisas, nas situações
e na vida.
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