sábado, 7 de dezembro de 2013

JÁ ERA TEMPO DE SE CASAR

Texto publicado na página da Confraria das Letras no jornal Notícias do dia em 16 e 17 de novembro de 2013.
 Autora: Eliana Aparecida de Quadra Corrêa



 No interior, namoros não esquentam fogão. São rápidos. As pessoas geralmente se conhecem desde cedo. As famílias já têm afinidades. E também assim evitam-se mau falatório. Então para que esperar. Mas esse namoro estava cumprido. Era hora de casar.
 Enxoval é coisa preparada desde cedo. Entre crochês, bordados e costuras os lençóis, toalhas de banho, mesa e decorações eram confeccionadas com destreza pela noiva e a mãe da noiva.
O noivo e seu pai preparavam o corte da madeira, o encaminhamento desta à madeireira para transformá-las em tábuas. Em seguida na construção da humilde casa de três quartos, sala e cozinha, sem esquecer do fogão à lenha feito de pedra para prover a comida do novo casal.
Entre preparativos para o casório, os encontros do casal enamorados aconteciam na sala da casa da noiva, entre olhares desconfiados do pai e atenciosos da mãe.
E sonhos de uma vida feliz, rodeada de filhos envolviam o casal, a espera do tão sonhado momento de concretizá-lo perante Deus, o laço matrimonial.
Eis que chega a tão esperada festa. Todos da família estavam convidados. Tios, primos, avós, padrinhos eufóricos com o evento. A igrejinha da localidade pronta, decorada com flores do campo.
Na casa da noiva a correria, um boi tinha sido preparado para a ocasião e o cheiro do assado estava no ar. Na cozinha, mulheres se revezavam no fogão preparando pratos para recepcionar os convidados. E muita cachaça já rolava animando os homens na empreitada de puxar mesas, bancos, improvisar tendas (no caso de chuva repentina). E a decoração com muita folha de bananeira, rosas e margaridas deixavam o ambiente romântico para a ocasião.
A noiva, com ajuda de suas madrinhas, arrumava-se no quarto, cuidando para que o noivo não a veja antes do casamento (dizem que dá azar). O noivo, todo nervoso. Entre gole de cachaça pedia para o padrinho arrumar a sua gravata.
E assim foram. O noivo (como segue a etiqueta) chegou primeiro a igrejinha toda enfeitada de flores do campo. A noiva logo em seguida chegou a trote do cavalo que ganhou quando criança. Um amigo inseparável da menina roceira, que agora era a noiva.
A cerimônia emocionou com lágrimas de felicidade. Ao sair da igreja uma chuva de arroz para dar sorte ao casal. E rumo a festa na casa do pai da noiva.
Após o jantar, a valsa dos noivos e um arrasta pé animou a noite. Até que resolveram leiloar a gravata do noivo. Quanto mais dinheiro os convidados davam, maior era o pedaço da gravata. Até aí, tudo bem. Mas além da gravata, a pessoa ganhava um número para concorrer a uma porca.
A animação era geral. Era quem podia dar mais para ganhar a porca. No sítio, uma porca pode alimentar várias bocas para um bom tempo. Era o prêmio.
Hora do sorteio. Suspense no ar. O padrinho do noivo que tinha feito toda arrecadação anunciou:
- Número 13.
 Tio da noiva todo animado, pulando de alegria, gritou:
- Sou eu, sou eu! Eu ganhei!
Feliz da vida foi receber o seu prêmio.
Surpresa. Entregaram a ele uma porca. Uma porca de parafusos.
Risada geral.
Peças e peripécias da família.
E o casal?
Como em muitos casamentos, saíram cedo, na surdina,  para curtir a lua de mel, enquanto os convidados aproveitavam a festa, num arrasta-pé frenético até de madrugada.



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