sábado, 13 de julho de 2013

TEXTO: COBRA GRANDE


Cobra grande

 "Cobra Grande" publicado no dia 13 de julho de 2013 na página da Confraria no jornal Notícias do dia. Um texto em homenagem a minha avó, uma contadora de histórias.

Vou te contar uma história que ocorreu no tempo mágico das matas contado por minha avó, contadora de causos e acasos. Conforme seus relatos sempre muito bem costurados como colcha de retalhos sua memória vai sendo remendada. Tudo aconteceu, quando seu filho era pequeno (meu pai). Meu avô muito orgulhoso resolveu que seu filho mais novo fosse com ele para a roça trabalhar.
Minha avó ficou preocupada, criança pequena perto dos matos, era perigo na certa, cobras e bichos ferozes poderiam o atacar a qualquer descuido do pai que no trabalho se dedicava. Mas não teve jeito, mesmo a vovó pedindo, lá foram pai e filho para a roça e se aventurar.
Enquanto o pai trabalhava, o filho brincava entre pedras, folhas, formigas e fantasias. Minha avó e suas filhas maiores foram labutar em outras plantações. Como de costume, as mulheres tomaram o rumo da casa mais cedo para tirar o leite, tratar e guardar as galinhas no galinheiro e preparar a ceia.
Foi nesse momento, de retorno a casa, que o fato ocorreu. Um menino correndo mais que podia morro abaixo de um bicho enorme com a boca escancarada ferozmente perseguia o pequeno. Foi que por sorte ou acasos da vida, um tronco de árvore envelhecida caída no meio do caminho, protegeu a criança que corria como se fosse saci fugindo de sereia. Esbaforido alcançou a mãe e as irmãs já chegando a casa. Muito assustado e sem a companhia do pai, logo desconfiaram que coisa ruim houvesse ocorrido.
Após um gole d’água, o pequeno falou, que um enorme graxaim quase o atacou. Foram atrás do tal do graxaim e logo encontraram o bicho enorme, ou melhor, uma cobra descomunal toda enrolada perto do tal tronco da árvore envelhecida.  Minha avó não teve dúvidas, correu até a casa, pegou a espingarda, preparou a munição e voltou até a cobra.
Parecia tecida de veludo toda colorida, nunca vira naquela redondeza, cobra tão grande.  Não tinha outra solução a não ser proteger a família de tal situação. Com um tiro bem certeiro atingiu a cobra sem medo, que se retorcendo adormeceu nas profundezas da mata, trazendo paz e segurança ao lar da família roceira.

O tempo passou e o episódio foi| esquecido. O menino foi crescendo, mas não dormia sozinho, pesadelos com bichos o atormentavam todas as noites e a família não entendia o porquê de tanto medo. Só muito mais tarde foram perceber que o susto de infância ficara registrado em sua memória, como veneno de cobra injetado em seu cérebro, atormentando seu sono tornando seus sonhos em pesadelos de uma bicho enorme querendo devorá-lo. Até hoje o medo de cobra o assombra sem saber o porquê. Não lembra do episódio ocorrido na primeira infância. Mas está registrado na memória da matriarca da família.

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