Cobra grande
Vou te contar uma história que ocorreu no tempo mágico das matas contado
por minha avó, contadora de causos e acasos. Conforme seus relatos sempre muito
bem costurados como colcha de retalhos sua memória vai sendo remendada. Tudo
aconteceu, quando seu filho era pequeno (meu pai). Meu avô muito orgulhoso
resolveu que seu filho mais novo fosse com ele para a roça trabalhar.
Minha avó ficou preocupada, criança pequena perto dos matos, era perigo
na certa, cobras e bichos ferozes poderiam o atacar a qualquer descuido do pai
que no trabalho se dedicava. Mas não teve jeito, mesmo a vovó pedindo, lá foram
pai e filho para a roça e se aventurar.
Enquanto o pai trabalhava, o filho brincava entre pedras, folhas,
formigas e fantasias. Minha avó e suas filhas maiores foram labutar em outras
plantações. Como de costume, as mulheres tomaram o rumo da casa mais cedo para
tirar o leite, tratar e guardar as galinhas no galinheiro e preparar a ceia.
Foi nesse momento, de retorno a casa, que o fato ocorreu. Um menino
correndo mais que podia morro abaixo de um bicho enorme com a boca escancarada
ferozmente perseguia o pequeno. Foi que por sorte ou acasos da vida, um tronco
de árvore envelhecida caída no meio do caminho, protegeu a criança que corria
como se fosse saci fugindo de sereia. Esbaforido alcançou a mãe e as irmãs já
chegando a casa. Muito assustado e sem a companhia do pai, logo desconfiaram
que coisa ruim houvesse ocorrido.
Após um gole d’água, o pequeno falou, que um enorme graxaim quase o
atacou. Foram atrás do tal do graxaim e logo encontraram o bicho enorme, ou
melhor, uma cobra descomunal toda enrolada perto do tal tronco da árvore
envelhecida. Minha avó não teve dúvidas,
correu até a casa, pegou a espingarda, preparou a munição e voltou até a cobra.
Parecia tecida de veludo toda colorida, nunca vira naquela redondeza,
cobra tão grande. Não tinha outra
solução a não ser proteger a família de tal situação. Com um tiro bem certeiro
atingiu a cobra sem medo, que se retorcendo adormeceu nas profundezas da mata,
trazendo paz e segurança ao lar da família roceira.
O tempo passou e o episódio foi| esquecido. O menino foi crescendo, mas
não dormia sozinho, pesadelos com bichos o atormentavam todas as noites e a
família não entendia o porquê de tanto medo. Só muito mais tarde foram perceber
que o susto de infância ficara registrado em sua memória, como veneno de cobra
injetado em seu cérebro, atormentando seu sono tornando seus sonhos em
pesadelos de uma bicho enorme querendo devorá-lo. Até hoje o medo de cobra o
assombra sem saber o porquê. Não lembra do episódio ocorrido na primeira
infância. Mas está registrado na memória da matriarca da família.
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